ENTRE O BELO E A TRADIÇÃO

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.353, de 21 a 27 de maio de 1984.




ENTRE O BELO E A TRADIÇÂO

NELSON LORENA



Lembramos que, em pesquisa feita por ilustre clínico de nossa terra, ficou constatado que as condições sanitárias de nossa cidade eram as melhores, de quase todas as suas irmãs do Vale. Nessa ocasião, Cachoeira não possuía rede de água e nem de esgoto. Não havia epidemias e, somente casos endêmicos, comuns e banais eram atestados. A água usada em nossa casa, como nas de todos os moradores, era extraída das cacimbas, com tampas precárias de tábuas ou folhas de zinco, penetráveis às impurezas do ar e dos mosquitos. Bebia-se água das minas próximas, quando possível. Nessas condições viviam todas as famílias, sendo raros os casos de vírus e bactérias patogênicas. A longevidade de seus anciãos constituía notável atestado natural do excelente clima e condições salubres de uma cidade privilegiada. Era longa a fila dos macróbios bebedores de água de cacimba e de minas, que nas batalhas pela sobrevivência somente perderam a última. Aí tivemos os Xavier, os Moreira, os Fortes, Dr.Bennaton, Lobão, Rufino, Mottas, Galdino, Marcondes, Seixas, e, na Margem Esquerda, os Fernandes, os Gomes, os Porto. Mencionamos por fim estes últimos, usuários que eram das águas da Mina da Mão Fria, objeto de nossa parlenda, julgada imprópria para uso pela CETESB, mas não absolutamente nociva. Moradores que somos desta cidade há mais de oitenta anos, estranhamos as razões e fatores determinantes da impotabilidade da água, após anos, comprovada que foi sua qualidade potável em maio de 78. Consumia-a nosso povo, há mais de cento e cinqüenta anos. Na construção da Estação Provisória da Central do Brasil trabalhavam centenas de operários, que dela se serviam e, em 14 de julho de 1875, SM D.Pedro II e comitiva, inauguraram a estaçãozinha e beberam da água em foco. As condições mínimas de periculosidade que os fatos comprovam e o fator histórico são, entre outras, as razões porque devemos conservá-la. Segundo a imprensa, imprópria para consumo foi considerada a água da Bocaina, que bebemos sob tratamento, é verdade. Sabemos que o cloro é usado em sua purificação e preocupam-nos os efeitos negativos em nossa saúde dos seus derivados, como o bromofórmio, o clorofórmio, o bromodicloro metano, que a ciência afirma serem cancerígenos. A Saúde Pública vem cumprindo seus deveres e finalidades para as quais foi criada mas, infelizmente, não consegue e não possui força bastante, apesar das advertências constantes, para evitar a degradação do homem, escravo do fumo, do álcool, segregado da sociedade e da família, que o vício destruiu. Voltando à Mão Fria, mais benéfica que maléfica, consideramo-la uma tradição que não deve ser desprezada e isso bem compreendeu o Sr.Prefeito Municipal que, sem alterar suas características e utilidade, vai transformá-la em um recanto atrativo e cheio de poesia, flores, arte e encantos turísticos.


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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


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