LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.354, de 04 a 13 de junho de 1984.
A NOITE É BOA CONSELHEIRA
NELSON LORENA
Evidentemente, constatamos em nossa existência fatos que nos levam a observá-los, assim nos parece, somente quando a velhice nos surpreende. Para muitos, a velhice reclama como prêmio de uma vida laboriosa, de alternativas boas ou más, alegres ou tristes, rudes ou não, um “dolce far-niente” nos bancos dos jardins; para outros, é ela como uma alvorada, em que suas meditações e pensamentos se voltam para as muitas coisas esquisitas, que denotam a existência da dualidade de forças espirituais com influência em nossa personalidade. Exporemos nossos pensamentos, da maneira pela qual somos capazes. O que somos e o que seremos, dependerá do modo pelo qual conduziremos as forças espirituais que constroem o homem. Uma reage sobre a outra. Uma, objetiva, consciente; outra, subjetiva, subconsciente. Quando acordamos, todas as manhãs, uma variedade incrível de músicas, jamais por nós ouvidas, afluem à mente e, ao mesmo tempo em que as canto, simultaneamente medito sobre as minhas tarefas diárias. Então indago: Quem as canta? Quem pensa, ao mesmo tempo? Conclusão: A existência, no homem, do consciente e do subconsciente e suas reações recíprocas, tal como veremos. Quando da feitura do monumento da Praça, reconhecendo nossa incapacidade, alguém nos afirmou, quase em desafio, que jamais o erigiríamos. Adormecíamos com o amor próprio ferido. Durante a emancipação parcial de nossa alma no sono, o subconsciente parecia dar-nos uma ordem de comando, para que desse “mãos à obra” e, desse subconsciente brotaram, a escultura, a moldagem, a técnica e a fundição, até então desconhecidas para nós, e a inauguração na Praça. Fomos incumbidos de pintar a Ascensão e a Ressurreição no forro da Igreja de São Sebastião. A Nave, em forma de polígono sextavado, tornava necessário obter as medidas exatas da área, a doze metros de altura, sem prejuízo das cerimônias religiosas diárias. Topógrafos nos diziam, se fosse possível, somente com aparelhos. O subconsciente, para quem apelamos, ensinou-nos como fazer. A vida de trabalhos diários intensos, de dez a doze horas, a que nos submetemos apesar de octogenários, se deve aos apelos feitos ao nosso subconsciente em nossas orações, à noite ao deitarmos. É ele quem nos mantém ativas, acordados ou dormindo, todas as funções orgânicas vitais como, respiração, atividades cardíacas, secreções glandulares, estômago, intestinos, independentemente de nossa vontade consciente. A experiência de nossa longa vivência, a despeito dos sofrimentos morais que a ingratidão, a crítica acerba e injusta, as dores naturais que nos atingem, dão-nos autoridade para que possamos, por amor ao próximo, aconselhá-lo ao apelo em suas orações ao seu subconsciente, essa espécie de Deus íntimo que, em breve ou longo tempo, infalivelmente nos atende. É sábia a máxima: “A noite é boa conselheira”.
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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