LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.331, de 06 a 11 de dezembro de 1983.
HERÓIS OU VÍTIMAS
NELSON LORENA
Vimos pela televisão as homenagens prestadas aos marinheiros americanos e franceses, mortos no Líbano. Foram recebidos como Heróis e, como tais, as honras tributadas. Estranho conceito do mundo sobre o Herói: "aquele que morre pela pátria". Talvez estejamos errados mas, achamos que Herói é “aquele que pela Pátria vive e que por ela tudo dá de si, menos a vida”. Achamos, até mesmo, que um covarde vivo será sempre mais útil que um herói morto. Antes, um moço, marinheiro, era a alegria dos pais, dos amigos, da namorada e pensaria em mostrar ao mundo o valor do Homem, durante os anos em que viveria construindo um lar, edificando uma família, célula da Pátria, fazendo com que cada pancada de seu coração fosse um marco fincado na longa caminhada da existência, assinalando a passagem de um homem que veio, não para ser um Herói, mas para viver no mundo. Agora, um retrato pende da parede de um lar, onde a saudade, a angústia da separação, as lágrimas derramadas nos lenços rememorativos das dores amargas, fixam a imagem do moço inocente, que, do lado de lá, interrroga: “Afinal, para que eu vivi? Para que eu nasci? Por que me mataram se nada eu tinha com os desmandos alheios?” Podemos afirmar que estas interrogações, quase não as fazem os filhos dos responsáveis pelas carnificinas e que estes não ostentam em suas paredes o retrato de um filho Herói. O sentimento pátrio sempre foi uma desculpa, um pretexto para a satisfação dos espíritos belicistas de certos megalomaníacos. Pretendem fazer a grandeza da Nação, com o sangue dos seus filhos, esquecendo-se de que essa grandeza é fruto do trabalho e vida, fecundos. Sem o culto do amor à Vida, não haverá o culto do amor à Pátria. Quem ama trabalha e quem trabalha constrói um mundo melhor. A história nos conta os fins, trágicos e melancólicos, dos que colocaram o estreito sentimento pátrio acima do culto do amor ao trabalho e ao próximo. Iríamos longe, se relatássemos os derradeiros momentos daqueles que, sacrificando milhões de vidas, lançaram a viuvez, a orfandade, a dor e o desamor ao próximo. Citaremos somente o final dramático da mais mortífera e cruel guerra de todos os tempos que o mundo conheceu. Segundo o narrador, Hitler aceitou taticamente a derrota, com as tropas russas apertando o cerco em torno do seu esconderijo. Chamou então a sua secretária particular e fez o seu testamento privado: “Ao final de minha vida terrena, decidi esposar essa mulher (Eva Braun) que, após anos de devotada amizade, escolheu livremente partilhar do meu destino.” Ela era sua amante há quatorze anos. A cerimônia do casamento efetuou-se a uma hora da madrugada de 29 de abril. Na tarde desse dia, Hitler despediu-se de todos os moradores do abrigo e lhes distribuiu pastilhas de cianureto. Dia 30, em seu aposento, estoura os miolos com uma bala e morre ao lado da esposa envenenada, sob o cheiro insuportável do cianureto. Neste mesmo dia, na profundeza de uma cova aberta por uma bomba russa, conforme a sua vontade, “os corpos de Hitler e Eva Braun ardiam sob o fogo de 180 litros de gasolina”. Que os Reagan e caterva de belicistas se mirem neste espelho e se convençam de que apenas o Amor ao próximo nos conduz ao Caminho à Verdade e à Vida.
*****
Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
Veja também:
NELSON LORENA – O ARTISTA CACHOEIRENSE
A ARTE DE NELSON LORENA
*****
Nenhum comentário :
Postar um comentário