A LIÇÃO DO MARIMBONDO

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.334, de 01 a 08 de janeiro de 1984.




A LIÇÃO DO MARIMBONDO

NELSON LORENA



É interessante notar que o Homem, dotado da faculdade de pensar, comparar e agir, está mais sujeito às decepções e erros que os outros seres, cujo comportamento se caracteriza e manifesta aos impulsos do instinto. A prudência, a previdência, a faculdade de orientação e as leis que presidem a perpetuação e sobrevivência das espécies não sofrem distorções. O que o individuo faz, igualmente o faz a coletividade. Há nove anos, construía uma casinha na Lagoa Seca quando observei no local o fato, aliás comum, de um marimbondo assediando uma aranha caranguejeira para matá-la. Pensei tirar conclusões e lições e pus-me a observar. O marimbondo voava em círculos em torno da aranha que acompanhava suas evoluções, apoiada nas patinhas traseiras, quase ereta, numa atitude de defesa mostrando dois ferrões vermelhos. O marimbondo, aproveitando uma oportunidade oferecida, desfecha-lhe uma ferroada na parte traseira e, em voluteios aguarda os efeitos que não se demoram. Os movimentos do aracnídeo se reduzem entrando ele em completa inércia, do que se aproveita o marimbondo para arrastá-lo ao seu esconderijo. Curioso, acompanhei-o em sua caminhada por entre seixos, pedras e gravetos até a encosta de um pequeno barranco, numa distancia de vinte metros, mais ou menos. Extraordinária a sua capacidade de orientação! Poucos dias após, ao rasgar a terra para o alicerce, descobrimos dezenas de pequenos marimbondos devorando o alimento, que a previdência paterna havia conservado com o “clorofórmio” que lhe injetara. Há exemplos na vida do Homem de que seus fracassos, seus insucessos se devem à ausência daquelas virtudes instintivas, que admiram nos seres inferiores. O valor do Homem se deve à faculdade de pensar, saber, querer, prever, prover, julgar, dons que lhe dão a responsabilidade no lar e fora dele. Desde junho de 1969, vínhamos nos batendo sobre a falta de vigilância ao Monumento da Praça. Não pretendíamos falar mais neste assunto, se o amor às coisas que marcarão minha passagem por aqui não houvesse movido minhas mãos. Faltaram aos responsáveis por sua segurança as virtudes do marimbondo. Restauramo-lo com a mesma dedicação com que foi idealizado, moldado, modelado, fundido e erigido. Saibamos conservá-lo, como homenagem e rememoração “Em memória aos que tombaram pela Lei”, como lá está.


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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


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