LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.358, de 25 a 30 de junho de 1984.
“MACAQUITOS”
NELSON LORENA
Conta-se que na região fronteiriça do Brasil, ao Norte, eram comuns os atritos entre brasileiros e habitantes dos países vizinhos, onde os insultos recíprocos resultavam em sérias escaramuças. Nós, brasileiros, éramos chamados de “macaquitos”. Mas, qual teria sido a origem do apelido? Seria porque a lavoura predominante na região fosse de bananeiras? Seria porque temos o hábito de imitar aquilo que nos vem de fora? De preferir imitar e nada criar? Macaquear aquilo que o estrangeiro faz, fugindo ao esforço mental de criar algo de novo? Talvez esta última hipótese seja a mais provável. Nosso povo, desde a mais alta até a mais humilde classe social, prefere blusas e camisas com dizeres em inglês ou francês, na propaganda da indústria multinacional, que nossa ignorância fomenta!
Outra nação seriamos se possuíssemos o espírito criativo, antecipando-nos aos pronunciamentos que nos chegam de fora. Derrubaríamos por terra o conceito de preguiçosos mentais, pelo qual somos julgados. Ainda ontem, ouvimos de um japonês que fazia uma horta em terreno fértil e até então abandonado, de seis mil e quatrocentos metros quadrados aproximadamente: “Brasirêro, muito preguiçoso.” Macaquear, ou melhor, imitar pode ser arte ou talento, mas Criar pode ser muito mais que isso. Saber criar é realizar um trabalho que sirva de padrão e que tenha conseqüências louváveis e meritórias ao ser imitado. O talento da imitação se revela naquilo que, escolhido, possa criar um mundo melhor. E aí, então, ser “macaquito” é ser sábio. Jesus nos deu a eterna Lei do Amor cristão. Uma imitação grosseira com o rótulo de religião cristã rola num despenhadeiro a humanidade! Abisma-a em guerras fratricidas, mascaradas de santidade. Não podemos negar, contudo, que esforços isolados procuram melhorar as condições fraternas do homem, procurando em boas iniciativas um refúgio, onde no trabalho nos afastemos de um mundo que “vive a míngua de Luz, que morre à míngua de Amor.” Como o esquilo que se esborrachou no solo ao tentar imitar o vôo do beija-flor, nossos governos, procurando se alinhar ao lado das super-nações, imprevidentemente arrastaram a Pátria ao descrédito e à insolvência com as faraônicas e ciclópicas, Transamazônica, Tucuruí, Usinas Nucleares, Itaipu, e outras. E nós, seguindo as pegadas como “macaquitos” mais modestos, embora animados pelos mesmos anseios de nos alinharmos ao lado de cidades vizinhas em seu progresso, imitadores sem talento, enterramos na miragem de nosso entusiasmo a fábrica de leite em pó, cuja pedra fundamental foi alcançada, a de tecidos, a de garrafas térmicas, a usina de asfalto, a Avenida Maestro Lorena, a imagem de Santo Antonio no Alto da Caixa D'água, a nossa Academia de Letras, as casas da CECAP, as 185 casas do Bairro do Pitéu. E, como falamos em nossa falecida Academia de Letras, queremos sentir aos nossos “preguiçosos” colegas a mágoa de sermos o único, o mais modesto e o mais velho “macaquito” a manter acesa a vela do seu funeral.
*****
Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
Veja também:
NELSON LORENA – O ARTISTA CACHOEIRENSE
A ARTE DE NELSON LORENA
*****
Nenhum comentário :
Postar um comentário