LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.345, de 26 de março a 01 de abril de 1984.
O RECOMEÇO DA ESCALADA
NELSON LORENA
No plano da elevação espiritual em que nos achamos, sentimo-nos incapazes de aceitar com resignação de santos a separação, pela morte, dos entes que participam de nossa vida. Indiferentemente, o alfanje duro, negro e frio da morte, não poupa o palácio dos ricos ou o tugúrio dos pobres, aquele que passa fome ou esbanja saúde, trazendo a lágrima, o desespero e a dor infinda. Dor acerba, dor que nos compunge, mormente, quando aquele que nos abandona deixa como lembrança o sorriso ingênuo da criança, que era a alegria do lar ou do moço sonhador, cheio de mocidade e vida, mergulhado que estava nos róseos sonhos do futuro.
Nos irracionais, o Amor se manifesta na forma rudimentar do instinto, forma que se dissipa quando a prole adquire a autodeterminação, na disputa pela sobrevivência. Em nós, racionais, o Amor aumenta com a convivência e a dor da separação fala mais alto que a Razão. A Fé foge, o desespero toma o seu lugar e a mente, confusa, não mais aceita os argumentos, por mais consoladores que sejam, e pergunta: Por que meu Deus? Por quê?
Torna-se preciso que nos convençamos de que a partida prematura pela morte dos entes que nos são caros, representa o término de uma etapa do aprendizado do Espírito no curso ascensional evolutivo, para que se cumpra o: “Sede perfeitos como perfeito é nosso Pai Celestial”, de Jesus. A caminhada é longa e dura. A subida é imperativa para a santificação do nosso Espírito. Ferem-nos as pedras do caminho. Sangram nossos pés nos espinhos dos abrolhos, mas as lágrimas derramadas se transformam em bálsamo curativo e consolador. Muitos são os que sucumbem nos lodaçais, desfalecem à beira da estrada, dormem sobre a relva das paixões subalternas. Na miséria, na doença ou na saúde, importa não desanimar, encher-se de Fé através da vontade, da coragem e do espírito de fraternidade.
O mundo é uma Escola. O Homem é o aluno. São incontáveis os degraus da ascensão que o levam, com a roupagem carnal que lhe serve, a transpor, pelo esforço e dedicação ao aprendizado, todos os obstáculos, entrando pelas mãos do Cristo no Cenáculo dos Eleitos do Senhor.
Com o pensamento no moço, amigo e ex-aluno, que nos deixou há duas semanas e na dor de sua esposa, amiga e ex-aluna também, na angústia lançada nos corações, de sua mãezinha, irmãos e amigos, rendemos um preito de saudade e pesar nestas descoloridas palavras, pela brusca separação que o Destino nos impôs. Tecendo as considerações acima, outro sentimento não nos leva, senão o de lançar no cálice amargo das suas dores, uma gota de consolação.
A morte não é o fim, mas o recomeço de nova escalada para a Perfeição.
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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