LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.344, de 19 a 25 de março de 1984.
A TRAÇA DA VAIDADE
NELSON LORENA
A Música torna-se bela quando a Melodia tem como complemento a Harmonia. Observamos a tendência que os jovens têm por certas composições que, analisadas em sua melodia são insuportáveis mas, suportáveis, quando harmonizadas. O fato, da melodia em si e do seu valor quando unida à harmonia, assemelha-se em muito com a vida de relações entre os humanos. O aspecto de certas pessoas, logo à primeira vista, pode nos impressionar agradavelmente, todavia, esta impressão se modifica quando no convívio com outras a personalidade desponta desfavoravelmente no comportamento, tornando difícil a harmonia do Viver. As múltiplas facetas de nosso temperamento, os inúmeros e desencontrados conceitos sobre o nosso relacionamento com o ser humano, sobretudo a vaidade natural que, muito ou pouco, todos possuímos, concorrem em grande parte para a desarmonia que tolda a alegria de viver. Até nos asilos, velhos desamparados que ali procuram a paz dos últimos dias chegam às explosões, geradas pelos recalques da autodeterminação e vaidade, perdidas. Também nas agremiações religiosas, onde o “Amai-vos” é ensinado, o espírito cristão empanado pelo “homem velho” quebra a harmonia exigida. Dia a dia, torna-se mais difícil o relacionamento pacifico entre nós! Mesmo entre as quatro paredes de nossos lares, os pontos de vista e as opiniões se tornam irredutíveis firmados no amor próprio, no orgulho, na vaidade, gerando a deformação da expressão melódica da existência. Que outra coisa é, senão, a vaidade do Poder na luta pela presidência de uma nação à beira da bancarrota, de pires nas mãos, com espetáculos deprimentes de miséria e fome, travada por uma penca de presidenciáveis?
Fundou-se, há pouco mais que um ano, uma Sociedade visando retirar da solidão e marginalização em que vive, o velho ou idoso. Dando-lhe outra motivação para viver, atenuando-lhe a rememoração saudosa e dolorosa, muitas vezes, do passado. Constatamos de vez a recuperação física e psicológica dos associados, retratadas nas festividades ali constantes, onde o bom humor, o riso e a alegria contagiante constituíram uma fuga ao passado, com reflexo no amor à vida. O Centro de Convivência Alvorecer tornou-se uma escola de rejuvenescimento. Através da orientação feliz que o vem mantendo são proporcionados divertimentos, bailes, brincadeiras, convescotes e a música harmoniosa do conjunto ali nascido, sob a orientação do Lalau. Oxalá, a traça da vaidade, da sede de poder, de direção, não venha minar pela base tão útil iniciativa. A harmonia é o complemento da melodia, assim na Música como na Vida.
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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