LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.347, de 09 a 15 de abril de 1984.
VAMOS SALVAR ESTA RUA?
NELSON LORENA
Gosto de palmilhar as ruas de minha cidade. A par dos benefícios que as longas caminhadas proporcionam à nossa saúde, o encontro com pessoas amigas e as histórias revividas em cada esquina, em cada janela, em cada praça, são qualquer coisa de gostoso, de agradável para nosso espírito, em seu retorno ao passado. Ontem, sol a pino, passei pela Rua da Estação, a Marechal Deodoro. Contrastando com as outras, mais parece uma rua de madrugada, tal a solidão, o abandono e o silêncio, como numa cidade morta. Isto não me teria tanta importância se, naqueles rápidos instantes, no caleidoscópio de minhas recordações não houvessem perpassadas as imagens dos dias da minha infância, numa amálgama de tristeza amarga e doce alegria. Como era alegre a minha rua! Girando o caleidoscópio, as imagens policrômicas se sucediam... Surgiu, de repente, o muro onde atualmente está a casa da Nini Ramos. À sua frente, os cochos do Afonso carroceiro onde a sua mula, Pachola, fazia o seu repasto. Vi, como outrora, o Maneco, seu filho, a bater com o cabo do chicote no animal que urinava em jato de esguicho, justamente no momento em que respeitáveis senhoras passavam em demanda da Igreja. E o Afonso a gritar: “Ô, Maneco, deixa a burra mijaire”, com seu sotaque português. Há certas ruas que envelhecem, como os homens. Após um período de atividade, a velhice e a decadência. A Rua da Estação, como era mais conhecida, era a artéria principal da cidade. Conheci-a em pleno vigor de sua mocidade. Possuía a Usina de Laticínios, hotel, alfaiataria, dentista, barbearias, açougues, casas comerciais fortes e um cinema, que mantinham em constante bulício as atividades, que culminavam com as sessões noturnas do cinema. Nesta rua afluía toda a seiva, todo o vigor de uma cidadezinha promissora. No curto comprimento de seus cento e cinqüenta metros, transitavam tantos quantos entravam e saiam na cidade. Hoje, “o silêncio da madrugada” é uma constante naquela saudosa rua que agoniza. Seu esplendor somente vive na recordação dos poucos que de sua mocidade recordam. Vamos salvar esta Rua? Ousaríamos propor ao Sr. Prefeito uma solução que talvez desse certo. Poderíamos sugerir o levantamento do aterro que vem da ponte do Paraíba para a Estação, o que encurtaria a distância entre a Margem Esquerda e a cidade, beneficiaria os moradores da Margem que se destinam a Rodoviária ou ao Mercado e, ainda, com a vantagem de fazer um dique que impediria a invasão das águas do Paraíba, na fase das enchentes, para o futuro Parque Municipal que S.Excia., durante sua campanha política, prometeu construir, se eleito. Veríamos aumentado o fluxo de pedestres e veículos carroçáveis, bicicletas, charretes, entre as duas margens, voltando assim aos olhos embaciados, de uma rua que morre, o brilho de outrora.
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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