LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.348, de 16 a 22 de abril de 1984.
O RÔTO E O ESFARRAPADO
NELSON LORENA
Disse certa vez um grande vulto da ciência médica: “a medicina é a única ciência que vive literalmente do sofrimento humano”, e acrescentaríamos, “mas, que dele participa”. Podemos, entretanto, afirmar que, outras ciências existem, e que fazem de si, meio de enriquecimento, de poderio. Há os que lutam pela Paz mundial, mas há os que também, ao contrário, lutam para que as guerras não a permitam. Os paises industrializados vivem das guerras, do sangue que ela dilacera, da orfandade, da viuvez, da mocidade destruída, dos miasmas deletérios dos cadáveres apodrecidos e abandonados e, desse crime perante Deus fazem a grandeza e o poder econômico de suas nações. A guerra para eles é uma questão vital. Procuram-na, estimulam-na, assistem a destruição dos países vítimas de sua política belicista, para depois oferecerem recursos a duro preço, envolvendo-os nos tentáculos do bilionário argentário. Criam uma mocidade como se fosse gado para o corte ou carne para o canhão, fazem de suas vidas, dólares para seus cofres, encerram em urnas hermeticamente fechadas os corpos estraçalhados de seus próprios filhos irreconhecíveis e, com a ficha cínica e odienta transformam-nos em “Heróis da Pátria”.
Agora surge a notícia de que o Brasil vai ajudar a Argentina a sair da “fossa” da inadimplência, ou seja, da falência ou incapacidade de cumprir os compromissos financeiros assumidos. Sabemos que, o que precipitou a queda vertical do nosso país vizinho foi o apoio dado pelos EE.UU. à Inglaterra na questão das Malvinas, cuja guerra daria a vitória à Argentina, em justa e histórica causa, se nossos “amigos” do Norte não houvessem dado as costas a seus irmãos da América. Agora, vai o roto vestir o esfarrapado pelas hienas da guerra. Um “pronto escorando outro”, dizia ao meu Pai um de seus músicos.
Vamos justificar a frase caricata do músico, que se enquadra num paralelismo de situações idênticas; a do Brasil, de agora, e a de meu Pai, de antanho. Família numerosa, recursos parcos, vivia o Velho em extremas dificuldades, como o Brasil hoje. Somente, meu Pai não vivia de pires na mão e nem batendo às portas dos “amigos”. Foi visitar o músico Evaristo, sabia-o enfermo. “Então Evaristo, você está abatido! O que foi?” E a resposta, “Pensei que era pelamonia, mas era figo”. “Foi muito bom o Sr. vir aqui. Estou melhor depois que tomei uma dose de “caramelano” (calomelano)”. E, meu Pai no seu habitual bom humor lhe diz: “É mesmo sinal de melhora, quando o cara está melando”. “Seu Lorena, estou sem remédio e sem dinheiro”, diz-lhe o Evaristo. “Como um pronto escora outro, queria que o Sr. me emprestasse vinte mil reis”.
E a história se repete, tanto no cume das altas camadas sociais como no vale da pobreza comum. Aí está S.Excia. Sr.Alfonsin a nos dizer: “Como uno pronto oscora otro, pido emprestar-me cincuenta miliones de dólares.”
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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