LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.325, de 24 a 31 de outubro de 1983.
A TRÍADE IMPOSSÍVEL
NELSON LORENA
Possuímos idéias e concepções próprias e, por isso mesmo, contraditadas pelas mentes mais esclarecidas. Isso não nos importa mas, sim, a liberdade de expô-las. Como todo velho, ou melhor, idoso, acordamos sempre de madrugada. As obrigações do novo dia que se anuncia nos despertam para nova luta, dependente sempre de nossa saúde, da alegria de viver e da honestidade de nossa conduta. A esta conduta nos prendemos, nos passos vacilantes de uma saúde instável, de uma felicidade variável e de uma honestidade quase nula. Formamo-nos ao lado daqueles que não crêem na existência da Saúde, Felicidade e Honestidade, completas. A Saúde e a Felicidade são intermitentes mas, tanto numa como noutra, a desonestidade é uma constante. A essa inexistência deve-se a posse da riqueza que, por conseguinte desonesta, proporciona na vida por instantes e de maneira efêmera, a saúde e a felicidade. Os lucros escorchantes dos negociantes inescrupulosos, dos intermediários à nossa subsistência, dos laboratórios com a propaganda e venda de medicamentos miraculosos de efeitos não comprovados, são outros tantos fatores dessa fugaz saúde, dessa artificial felicidade gerada em espíritos pecaminosos. Lutamos sempre contra este aspecto negativo de nosso caráter mas, as circunstâncias que encontramos no meio social em que vivemos são estímulos para sua fixação, como um estigma em nossa mente. Fixação que não conseguimos remover e nem dominar, explicável somente à luz da imperfeição da alma que nos conduz. A tendência que possuem as crianças para mentir, falsear a verdade, mormente para encobrir uma falha, é uma forma incipiente da desonestidade que caracteriza o ser humano. Somos pobres passageiros, homens, mulheres e crianças, de um trem de terceira classe que roda pelo infinito, passageiros que carregam uma bagagem de enfermidades morais e físicas, desde que o trem começou a se movimentar. Conversávamos com um amigo e exaltávamos o gosto de nossos filhos pelo estudo quando surgiu um garoto, seu filho, com um livro nas mãos. Dissemos-lhe: Pelo que vemos, você gosta mesmo de estudar! E o garoto: Adoro! Continuamos a conversa: Mas você não foi à aula hoje... E a resposta foi que era o dia de planejamento para os professores. Lembrando do nosso Primeiro Ministro, ao se falar em planejamento, a conversa girou em torno de o inegável poder político do nosso Delfim que, procurando a salvação da Pátria no FMI, achou para ela o FIM. Ante o grande prestigio do nosso eminente planejador, o garoto pergunta ao pai: Papai, quando o Delfim morrer vai ser feriado? E o pai: Vai sim, meu filho. Continuou o filho: E no dia do enterro, também? Também meu filho, diz o pai. E o menino continua: E na missa de sétimo dia, também? Também, responde o pai. E o garoto, esboçando um sorriso: Vai ser uma semana bacana, não Pai? Não adorava, tanto assim, o estudo. Era mais um passageiro do trem. É pena, que essa mancha de insinceridade seja tão atirada aos que são confiados os destinos da Pátria. No conceito do povo, o homem de responsabilidade política não mente, inventa a verdade. Se queres ser bem sucedido na política, cultiva essas duas grandes virtudes; Sinceridade e Sagacidade. Sinceridade, é manter a palavra empenhada custe o que custar. Sagacidade, é nunca empenhar a palavra, custe o que custar.
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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