LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.360, de 09 a 15 de julho de 1984.
A VELHICE E A MECÂNICA DA VIDA
NELSON LORENA
Há duas espécies de velhice no ser humano, a física e a mental. Pelo que sabemos e observamos, as duas se completam na continuidade sadia da existência, em muitos casos. O corpo físico tem, normalmente, segundo observações científicas, condições de viver cento e vinte anos e assim seria se a humanidade se conscientizasse de que “o corpo é o santuário do espírito” e, como tal deveria ser respeitado. Quem não se admira da velhice sadia do Laudelino e do Joce, nossos populares macróbios? E, como eles se orgulham da própria longevidade! Dizem que até já brigaram, por cada um querer ser mais idoso do que o outro. É digno de nosso respeito e admiração o bom humor jovem que possuem, espalhando exemplos e esperanças para aqueles a quem a velhice é um fardo pesado e detestável. Em Mecânica os cálculos são, teoricamente, infalíveis e assim seriam se na prática não houvesse os atritos. Na Mecânica da Vida jamais chegaremos aos cento e vinte anos, sujeitos que estamos aos vícios, aos ódios, às incompreensões, quer na vida privada quer na vida pública os atritos são inevitáveis. Atritos que se tornam obsedantes idéias fixas, com reflexos negativos nos órgãos do corpo somático, criando-se as enfermidades que encurtam a vida. Nós, espiritualistas e deístas, sabemos que uma alma integra o nosso corpo e o dirige. “Mens agitat molem”, a alma move a matéria, constitui para nós ponto de Fé. Convencidos de que os pensamentos dissolventes nos encaminham à velhice precoce, por que não recorremos às virtudes da alma no sentido de pedir-lhe forças para superar, esmagar esses pensamentos? E a voz da Alma far-se-á ouvir: “Ora, ora com fervor!”. Por força dessa voz, o processo dissociativo aliado ao nosso desejo se concretiza, ao contemplarmos a beleza de um céu estrelado, o sorriso inocente de uma criança, aspectos novos e belos da natureza, páginas de Marden, Ellick Morn, palavras de Marco Aurélio, de Jesus nos capítulos V e XI de Mateus. Manter em constante atividade e trabalho nossa mente e nosso corpo, fugir da estagnação doentia, são deveres de todo aquele que, vivendo o seu dia a dia cristãmente, sente o calor da centelha de sua origem divina. Somente se tornará velho aquele que assim se julgar. Estimulemos os centros de convivência entre os idosos onde os problemas cruciais de sua marginalização social se atenuam e restituem-lhes a alegria de viver num mundo que de alguma forma construiram. Nossa cidade possui o “Alvorecer”, onde um elevado número de associados atesta verdadeiros “renascimentos” com a eliminação dos problemas depressivos e emocionais que nos matam antes do tempo. E, ali, entre recreações e fraterno contubérnio que lembra o dos primitivos cristãos, sentem os idosos o prazer de viver e parecem se orgulhar de suas idades, conseguindo assim que os cálculos práticos da Mecânica da Vida sejam tão infalíveis como os da Mecânica Pura, eliminados que foram os atritos.
*****
Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
Veja também:
NELSON LORENA – O ARTISTA CACHOEIRENSE
A ARTE DE NELSON LORENA
*****
Nenhum comentário :
Postar um comentário