LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.361, de 16 a 22 de julho de 1984.
ERROS E FALHAS IRREPARÁVEIS
NELSON LORENA
Analisando o homem individualmente, chegamos à conclusão de que, por mais que se afigure um padrão de honestidade, caráter, bondade, inteligência e religiosidade, possui imperfeições, ocultas umas, notáveis outras. O agrupamento humano significa, coletividade. Daí concluir-se que, toda sociedade é imperfeita em sua organização. Por isso, o entusiasmo com que se inicia qualquer empreendimento, comumente se desgasta. O que vem confirmar quão instáveis são as obras humanas em seu aspecto material, principalmente. Em uma das nossas crônicas falamos nas boas coisas, nos atrativos que nossa cidade possui. Mencionamos a índole hospitaleira do povo, o clima salubérrimo, o espírito de religiosidade que, mais ou menos, vinte templos de oração que possuímos atestam, falamos na beleza topográfica, já de si decantada por viajantes nos primórdios do século dezenove, na grandiosidade da nossa Estação Ferroviária, a maior obra arquitetônica do Ramal em cujos salões foi homenageada SM D.Pedro II, no Trevo da Dutra, como o mais belo entre todos e, na cultura e orgulho de possuirmos uma Academia de Letras, símbolo da nossa cultura que a sobrelevava a outras cidades maiores que não a possuem. A transferência para outras cidades de alguns de seus membros, falecimento, desinteresse administrativo e inatividade, causaram sua extinção. Há, contudo, a esperança da retomada de suas atividades com a inclusão de valores que estão despontando. Como nos tem apresentado a imprensa local ultimamente, colaborações eruditas, ricas na forma e na linguagem, tanto no conteúdo como na substância, consentâneas com a atualidade e os costumes modernos, muito ao agrado principalmente da juventude, vêm ressurgindo com roupagem nova.
Ontem, eu e meu filho, fomos ao viaduto da Dutra que compõe o Trevo do qual nos orgulhávamos e estarrecidos ficamos ante a destruição daquela beleza que tanto decantamos. Gramas queimadas pelo sol, pelo fogo, pisoteadas por treinos de futebol, canteiros de flores desaparecidos, árvores ressecadas, e onde somente um canteiro de espinhos floridos, por sua natureza agreste e agressiva, desafia a incúria e o abandono de sua conservação. Uma tristeza marcou nosso retorno. Tristeza que, por bairrista que somos, nos obriga a evitar a visão do espetáculo da destruição lenta e progressiva da nossa Estação Ferroviária, um monumento que está a exigir ação enérgica dos poderes municipais. Um falso entusiasmo arrastou uma multidão para assistir a festa do Tombamento pelo Condephat. Isto foi em abril de 1982, dois anos já se passaram e o tempo e o descaso continuam solapando a estrutura já quase em ruínas. Para o demagógico Tombamento, parte de sua fachada foi caiada, para mascarar seu aspecto de velha desprezada. As ameias sem o devido revestimento, ameaçam cair. Soalhos apodrecidos impedem ao turista apreciar maravilhosa paisagem que o Paraíba nos oferece. Paredes descobertas, revestimentos precários, abandono completo, estão a exigir maior atenção dos nossos governantes e providências aos responsáveis pela sua conservação e fiscalização, no caso, nos parece à E.F.Central do Brasil e ao Condephat. Um deplorável contraste entre as suas glórias e as ruínas do abandono.
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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