LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.363, de 30 de julho a 05 de agosto de 1984.
SEBASTIANA DE TAL E SUA GRANDE MÁGOA
NELSON LORENA
Muito cedo, no verdor dos anos, habituei-me a analisar os fatos, compará-los e tirar conclusões de sua razão. Vivia eu com meus pais e mais seis irmãos quando, um dia, uma gastrenterite, para a qual não havia medicação especifica na época, rouba ao nosso convívio minha irmãzinha de dois anos. Os amigos de meus pais procuravam consolá-los: “Conformem-se com a vontade de Deus”, diziam, tentando com palavras piedosas aliviar a dor que os afligia. E eu, pensava na decantada “misericórdia divina”, lançando o desespero nos corações paternos e impedindo a inocente criança de desfrutar as alegrias e o prazer de viver, que suas irmãs já na rósea adolescência da vida desfrutavam. Meu pai era o chefe da Maçonaria na cidade e, por isso mesmo, combatido pela Igreja que a condenava como obra do Diabo. Teria sido, então, castigo de Deus? Mais esclarecido pelos anos que se sucederam, alargando meus horizontes iluminados à luz da Lógica e da Razão, conclui que Deus é Justo e Perfeito. O erro é humano e, humana sua imperfeição.
Todo efeito pressupõe uma causa. Toda causa gera outra questão e nessa sucessão chegaremos sempre à causa primária de todas as coisas: Deus.
Mas há coisas e fatos que, por mais que esmiucemos suas causas, não conseguimos com elas atinarmos. Por falta de assunto resolvi comentar uma questão, cuja solução competiria aos ilustres historiadores de nossa terra.
Tudo nos leva a crer que foi aos seis de agosto de 1780, que a tal de Sebastiana construiu uma capela em louvor do Senhor Bom Jesus, em frente do atual porto de areia. Era precária sua construção, não resistiu à ação do tempo e uma outra foi construída, no lugar onde está atualmente um Centro de Umbanda, em seis de agosto de 1786. Nascia assim nossa Cachoeira, sob a proteção do Bom Jesus, isto há 204 anos. Bom Jesus era o patrono da “mocinha”, como poeticamente a chamou a Imprensa. Há oitenta e dois anos, em 1862, foi erigida uma capela em louvor de Santo Antonio, na Margem Direita. Não compreendemos por que a cidade não tem como patrono o Senhor Bom Jesus, que a viu nascer. Por que, ainda, comemora-se erradamente o seu aniversário em 13 de junho, se ela nasceu em 6 de agosto? Francamente, apaixonado pela verdade histórica da minha terra, não compreendo. E, Sebastiana de tal, já na Glória do Seio de Deus, estará pensando: Por que desprezaram o Padrinho de minha “filha”, se Ele é o mais Rico, o mais Puro, o mais Poderoso?
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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