LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.374, de 15 a 21 de outubro de 1984.
ÁLCOOL,TABACO E MACONHA
NELSON LORENA
Há poucos dias, a cidade amanheceu alarmada com a noticia de que a Polícia havia desbaratado uma quadrilha de maconheiros, envolvendo pessoas conhecidas de nosso meio social. Louvamos o sucesso alcançado pelo instrumento responsável pela ordem pública, no desempenho do trabalho de proteção ao bem e saúde da população.
Tudo o que concorre para a perturbação da vida normal de nosso povo, deve receber nossa repulsa. Daí, portanto, não compreendermos qual a razão pela qual se destroem centenas de hectares de nossas matas virgens, que fertilizam o solo e purificam o oxigênio que respiramos, alimentam e conservam as nascentes e mananciais, para o plantio e cultivo do Tabaco e seus subprodutos, alcatrão e nicotina, tão prejudiciais à saúde dos fumantes pelos efeitos tóxicos que se constatam no cigarro. Não compreenderíamos igualmente, a venda liberada da cachaça, a expansão mortífera do alcoolismo, se não fora o peso do seu lucro de quinze por cento no orçamento da União! Quantos heróis anônimos sucumbidos, vítimas de infartos, cirroses, tromboses, lesões cardíacas, enfisemas irreversíveis, cânceres, problemas circulatórios, respiratórios, etc.. Não compreendemos que uma luz tosca encubra as campas que encerram a valiosa contribuição financeira que deram, em troca de sua vida, para os cofres da Nação! Perdemos um parente amigo, entre as muitas vitimas do fumo que, durante trinta anos fumou dois maços de cigarro por dia, ou seja, mais de vinte mil maços. A Nação deveria reconhecer neste amigo, um Herói. Sim, um Herói, que deu a sua vida em prol da Nação e de seus cofres. Quem responde pelo sofrimento das esposas e filhos que sentiram nas próprias carnes a degradação de seus maridos e pais, vitimas das enfermidades causadas pelo alcoolismo e tabagismo? Quem responde pela dor dos pais, que vêm seus filhos dependentes do álcool e do cigarro? Iludidos pela campanha colorida e estilizada de jornais, revistas e televisões, consagrando esses venenos como “orgulho e riqueza” de nossa industria?
Xavier, você errou e perante a lei é um criminoso. Atenuam sua transgressão, sua escassa cultura e descendência humilde. Mas, os verdadeiros criminosos são os que legalizam a fabricação, a venda e permitem a propaganda ostensiva e sedutora pelos vários processos, enriquecendo grupos e degenerando uma raça. São os que se conservam indiferentes aos direitos dos alérgicos à fumaça do cigarro, obrigados a inspirar nicotina e alcatrão nos veículos coletivos, por falta do cumprimento de leis proibitivas. É evidente o paradoxo, triste mas verdadeiro, que se nos apresenta o consumo imoderado do fumo e do álcool. Mal, para o povo, no tratamento e recuperação das doenças, quando não, o ataúde. Bem, para os governos, no equilíbrio da sua endêmica incapacidade administrativa. Punem-se maconheiros, proíbe-se a maconha, um mal menor. Legalizam-se o fumo e o álcool, um mal maior. Por quê?
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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