O MILAGRE

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.376, de 29 de outubro a 04 de novembro de 1984.




O MILAGRE

NELSON LORENA



Dentre os vários assuntos que me prendem a atenção, Religião foi sempre o mais preferido. Habitualmente perpasso os olhos pelas páginas dos livros contidos tanto no Antigo como no novo Testamento. Abri a Bíblia, deparando-me com o III Livro dos Reis, cap. XVIII. Vi ali confirmado, aquilo que há muitos anos observo: o poder da vontade, quando altruisticamente dirigida. A Fé entibiada dos quatrocentos e cinqüentas profetas de Baal, deus dos Fenícios, não conseguiu acender o fogo para o holocausto ao seu Deus no desafio feito por Elias. Este, sozinho, contando unicamente com sua fé e vontade, acendeu-o com o fogo do Céu. Foi, para aquele tempo de Fé, em que por ausência ou escassez da cultura não participava a Razão, um milagre. Milagre que, ainda hoje, segundo sua definição comum, continuam a ser os fatos sobrenaturais divinos, contrários às leis da natureza. Definição absurda e contraditória! Se o milagre vem de Deus e igualmente as leis da Natureza, como se pode conceber um Deus que se contradiz? Seria como um excêntrico governo que condena a corrupção, e a permite! Pela lenta, progressiva e incontida evolução do pensamento humano, o milagre vai desaparecendo à luz de novos conhecimentos. Há sempre uma razão para tudo e a Ciência, embora não sabendo ainda explicar o “Milagre” não o aceita, na certeza de que haverá uma lei desconhecida que o rege. Em todos os tempos, os videntes constataram uma maior ou menor existência de emanações de energia em toda a superfície de nossos corpos; daí temos as auréolas que envolvem as imagens dos Santos. Essas emanações se sintonizam ou se repelem ao nos depararmos com pessoas que nos infundem simpatia ou repulsa. Fazendo uso delas, muitas vezes conseguimos, pela vontade, prece e amor, cessar dores violentas de peritonite, angina pectóris e apendicite. A gravidez psicológica ou pseudo ciese, como queiram, é um efeito relativo dessa energia, ainda que mal dirigida, que se encontra nas mulheres estéreis que ambicionam um filho; objetivo que não se completa pela imperfeição anímica estéril. “Vós sois deuses, fareis as coisas que eu faço e maiores ainda.”, disse o mestre Jesus. Aí temos as operações do Arigó, do Dr.Edison abrindo cérebros, tórax, extraindo tumores, corrigindo lesões valvulares, sem assepsia e sem dores. Um amigo mostrou-me a cicatriz em forma de colete em seu peito, aberto para curar uma lesão da coronária. Nina Kulagina, extraordinária médium russa, de Leningrado, fazia diagnósticos de moléstias cuja imagem se desenhava em seu cérebro, dizia objetos ocultos nos bolsos das pessoas, impressionava filmes à distancia, fixando-os com o olhar. Aqui mesmo, em nossa terra, uma moça ainda viva, com a cabeça coberta e olhos fechados lia cartas ainda em mãos do carteiro, dizia a cor dos lenços nos bolsos do médico, descrevia as pessoas que estavam passando na rua e dizia seus nomes. Já nos dizia um grande valor da Ciência que, com as leis que desconhecemos poderíamos fazer um outro Universo. Não sabemos explicar como a palavra, nascida do pensamento, atua nos centros nervosos e se transforma em som, em matéria, através dos órgãos da fonação. Se o espírito do homem, ainda preso as peias pesadas da matéria, realiza fatos surpreendentes, melhor ainda o fará quando sublimado. Assim concebemos o nascimento virginal de Jesus, o Filho de Maria.


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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


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