AS FLORES DO MAL

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.406, de 01 a 07 de julho de 1985.




AS FLORES DO MAL

NELSON LORENA



“O Mal é o Bem, mal compreendido.” Esta frase, proferida por Matterlink, encerra uma grande verdade. O arado que corta o solo, o cinzel que fere o mármore, o bisturi que secciona um membro, o machado que violentamente derruba uma árvore, as lágrimas que a dor provoca trazem, em breve ou ao longo do tempo, os benefícios que a sabedoria divina prevê e provê.

Tudo o quanto existe, constitui-se em células do imenso organismo que é o mundo em que vivemos. É, justamente, no atrito do abstrato da idéia com o concreto das ações que o progresso caminha, com os homens, sem os homens e apesar deles. Sabemos que as plantas, das quais são retiradas suas qualidades terapêuticas para os nossos males orgânicos, sofrem quando arrancadas ou pisoteadas por força de sua utilização. A Vida Secreta das Plantas, um livro de autor americano, conta-nos que certo policial, perito em aparelhos detectores de mentiras, reuniu seis de seus alunos e sorteou entre eles uma tarefa a ser cumprida, sem o conhecimento dos demais. Tal tarefa se constituía em destruir determinada planta, que se encontrava em uma das salas, pisoteando-a, entre duas que ali estavam. Cumprida a tarefa, ligou o professor o polígrafo à planta sobrevivente e os alunos desfilaram separadamente diante dela. Quando o culpado se aproximou o aparelho acusou excitação feroz. A planta viva parecia estar ainda sob a impressão da tragédia que presenciara; tal qual nos sentiria, se testemunhássemos a morte de alguém sob as rodas de um trem.

Assim, também como outros, esse fato leva-nos à conclusão de que as plantas possuem virtudes inerentes à alma: pensam, sentem, reagem a estímulos e sofrem. A aplicação humanitária e medicinal de suas virtudes justifica a sua existência.

Também nos humanos, a dor desperta para grandes realizações. Um ex-aluno nosso e sua esposa, passaram pelo duro golpe de perder um filho de quatorze anos, atropelado por um automóvel. Não há palavras que possam retratar tal sofrimento. Os pais, desesperados, em busca de algum lenitivo para a dor profunda que os assoberbava, foram até Chico Xavier, distante a centenas de quilômetros. Médium, consagrado pela sua honestidade, um Santo, como certa vez o classificou nosso amigo de saudosa memória, Agostinho Ramos, recebeu o Chico uma mensagem do menino Luis Carlos, com toda a expressão da pureza e inocência de sua adolescência, vivida no recesso do lar. As frases usuais, as citações de fatos apenas conhecidos dos pais, detalhes íntimos, tudo afastando a hipótese de uma falsa identidade, acrescenta fossem preenchidos os pedaços de seus corações com a prática do Amor ao próximo e do amparo às crianças. A resignação, a consolação e o cumprimento da tarefa imposta, confirmaram como a dor é o primeiro passo para as grandes realizações.

Acabamos de receber, dos pais, um convite para a inauguração da Associação Cristã Luis Carlos Elo de Amor – Casa da Criança, dia 7 de julho próximo, em São Paulo. Realmente, o Mal é o Bem, mal compreendido. Perderam um filho, receberam dezenas.


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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


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