AS OBRAS HUMANAS

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.394, de 29 a 31 de março de 1985.




AS OBRAS HUMANAS

NELSON LORENA



Em todas as realizações, em todas as obras humanas, os elementos que as compõem em conteúdo se confundem, tanto em seu valor moral como material. Nada há de perfeito no trabalho do homem e nem ao contrário poderíamos afirmar, considerando os seres imperfeitos que somos a imperfeição é em essência lógica. Muitas vezes, um capricho pouco recomendável, um sentimento dissolvente ou um objetivo pouco nobre, também se confundem com a vaidade de sermos sempre lembrados na posteridade. Nas obras que construímos, inegavelmente sentimo-nos, por vezes, entre o amor à arte e a lembrança que a posteridade imortaliza. As obras de Fídias, escultor grego, o celebrizaram. Adulador de Alcebíades, general grego de mau caráter, fez em sua homenagem um monumento em Delfos, havendo terminado seus dias acusado de roubo de ouro e marfim. Confundiram-se na obra, que seria perfeita se na substância de seu conteúdo não estivessem intimamente ligados, o amor à arte, a vaidade, a subserviência e a adulação.

Sempre sentimos pela França uma grande simpatia, como se ela houvesse sido nossa segunda Pátria. Guardamos ainda, de Napoleão, as reproduções das cartas escritas à sua esposa, Maria Luiza. Poucos homens exerceram na História, igual influência. Criador dos princípios táticos da guerra moderna, literato, escritor, estadista, autor do código Napoleônico, que serviu de modelo para as leis civis de outras nações da Europa, são obras suas que lembram e atestam seu gênio multiforme. Hoje, lemos uma de suas cartas em que se registra a parte negativa e condenável de seu caráter e personalidade. “Minha amiga. Tenho boas notícias a dar-te. Venci o general Kleist, matei 4.000 homens e fiz 8.000 prisioneiros...”

Não se pode negar o valor de sua obra, do monumento que erigiu na história da humanidade mas, sentia ele na alma a alegria das derrotas infligidas aos inimigos e à visão dos campos de batalha juncados de cadáveres, vitimados pela megalomania da ambição. Essa parte negativa de seu temperamento é o que constitui, para nós, as escórias que, mesmo contribuindo para a edificação da sua obra roubam-lhe na essência parte de seu valor de sua perfeição. Sem amor, não haverá nada perfeito, nada se construirá de duradouro. Houve um Homem que deixou e exemplificou um Código que, imitado, nos traria a felicidade e a perfeição, este foi Jesus. Divino em toda a sua grandeza, vem desafiando as deturpações, as interpretações capciosas que se amoldam aos interesses subalternos de seus pretensos seguidores.

O homem, desde que foi criado tornou-se político. Política é arte de governar. Mas, a Arte é um dom que nem todos conquistaram. Para ser político hoje no Brasil, basta saber ler e escrever; dispensam-se qualidades morais e cultura. Projeta-se o homem por muitos dos caminhos escusos que o levam à ascensão e a atribuições, além de sua capacidade, que lhe são confiadas. Planejamento inadequado, sede de lucros prováveis, interesses inconfessáveis, insinceridade nas ações, estão entre muitas sujeiras a tisnar e impedir o alcance do objetivo colimado.
Onde estão, a Estrada do Aço, a Transamazônica, as Usinas Nucleares, a democratização prometida? Acabou-se a época das Capitanias Hereditárias. Precisamos ser ouvidos. Urge, mais que nunca, cultivarmos as virtudes cristãs que são “o princípio e o fim de todas as coisas”, para que a Obra Humana reflita, intrínseca e extrinsecamente, todo seu esplendor.


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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


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