LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.387, de 28 de janeiro a 03 de fevereiro de 1985.
AS OVELHAS DO REBANHO
NELSON LORENA
É interessante observar-se como a sede de domínio é inata em todos os povos quando alcançam uma manifesta superioridade sobre outros, seja no poder militar, econômico, cultural ou religioso. Isto se verifica, em face da História, em todos os tempos. Quando da supremacia da civilização Greco-Romana, era considerado bárbaro todo povo que não participasse da sua cultura e educação. Esse conceito acabou por gerar inimigos, que se aliaram criando represálias políticas e militares, e relegando à condição de simples época histórica a transitoriedade fatal das civilizações nascidas do orgulho e vaidade e na ausência do amor fraterno.
O homem moderno ilustrou-se, evoluiu inegavelmente nas ciências, nas artes, na tecnologia, mas espiritualmente continua guardando no âmago a fera que dormita e se dilata ao primeiro estímulo de uma ofensa. Os séculos vindouros contarão como a civilização moderna abandona, por obsoleta, a guerra de conquista terrestre e marítima para fazê-la “nas estrelas”, como pretende a histeria bélica de Reagan. Quando haverá paz entre os homens? Quando poderemos viver como irmãos? Quando o Reino de Deus será implantado na Terra? Desgraçadamente, não existe neste mundo um só governo que possua realmente no corpo e no espírito, o sentimento cristão. Todos eles, sem exceção, pensam e preocupam-se com o preparo militar para a eventualidade de uma guerra. Enquanto rezam, as “nações religiosas” mandam seus filhos, a nata da juventude e do futuro da Pátria, para o Molock da guerra!
Nos templos chamados, cristãos, ouvem-se hinos e hosanas ao criador enquanto as forjas e fornalhas dos fornos fabricam as máquinas de destruição. Jamais, no mundo, foi tão hipócrita o sentimento religioso dos que cantam as glórias do Senhor com os lábios e ensinam como detonar uma granada ou destruir milhares de vidas irmãs, do outro lado das fronteiras. “Jesus é meu pastor!” Pastor triste e doentio que não causa nenhum orgulho a quem o possua. Um pai, certo dia, contou-nos haver educado e criado seu primogênito no sentimento de respeito, amor e piedade ao próximo e aos seres da criação. O amor aos pássaros, principalmente. Ia ele ao extremo de escalar as árvores para admirar os filhotes nos ninhos, com encanto e prazer, sem jamais se permitir molestá-los. Este filho, fazendo-se moço e convocado para o exército, tornou-se o melhor atirador de sua turma. Aprendeu a arrebentar a cabeça de um irmão a quatrocentos metros de distância. Frustrou-se o pai, que assim nos disse: “As ovelhas do Rebanho do Senhor não aprendem matar, imolam-se”.
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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