COISAS QUE ACONTECEM

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.381, de 03 a 09 de desembro de 1984.




COISAS QUE ACONTECEM

NELSON LORENA



Lembrei-me de Botira Camorim e do sabor de suas crônicas, então, por circunstâncias que não vêm ao caso, por instantes resolvi tomar a sua coluna.

Ainda sob a impressão do Festival de Música organizado pela Prefeitura local, ao ser convidado para participar do corpo de jurados, pediram-me um breve currículo sobre as minhas atividades no setor da Música. Comecei o meu relato, tal como me pediram, desde o meu nascimento, filiação, etc., e, enquanto anotavam, disse-lhes que tinha nascido sob bons auspícios, ao som da banda de música do Cel.Juquinha, da qual meu pai participava. Era uma Festa do Divino.

Coincidentemente, talvez isto tenha influído em minha formação musical, dada a facilidade que possuo para composições. Nasci, disse-lhes, sob um céu de encanto inigualável. Era qualquer coisa de maravilhoso. Nunca se vira aquela concha, recamada de tantas estrelas e de tanto brilho, onde, sobre um fundo cor de chumbo, a generosidade do Onipotente atirou às mancheias, lantejoulas e brocais prateados. Orion estava imponente, Beteugeuse e Rigel constituíam um espetáculo à parte, no qual as Três Marias pareciam sorrir para o primogênito homem que surgia. E assim deveria ter sido a minha primeira noite. ”Mas, como você sabe disso, se seus olhos nem bem estavam abertos?”, interrogaram-me. Continuando, expliquei-me melhor: Minha santa mãe estava orgulhosa por ter concebido um varão, após três meninas. E nasceram mais seis, a seguir, mas nenhuma em uma Festa do Divino! Era o grande prazer de minha Mãe Dudu, decantar o meu nascimento, sob cujo céu eu o descrevo, pois, dizia-me sempre ela que naquela noite, “viu estrelas”. E qual mãe não vê estrelas nessa hora, mesmo sendo de dia?!


*****


Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


Veja também:


NELSON LORENA – O ARTISTA CACHOEIRENSE


A ARTE DE NELSON LORENA



*****

Nenhum comentário :