TROPEÇOS DOS ÚLTIMOS PASSOS

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.389, de 11 a 17 de fevereiro de 1985.




TROPEÇOS DOS ÚLTIMOS PASSOS

NELSON LORENA



Não há quem não tenha o hábito de guardar coisas várias como, objetos, jóias, roupas, livros e tudo aquilo que, muitas vezes em sua inutilidade prática, significa uma reminiscência saudosa de alguém muito querido ou possuidor de uma existência digna de recordação. Possuo, desde o verdor de minha juventude, o costume de colecionar artigos, notícias, tudo quanto de utilidade encontro nas pesquisas e conhecimentos históricos, religiosos, científicos, etc.. Lembro-me, até por cúmulo dessa mania que herdei de meu saudoso Pai, e que os filhos herdaram de mim, que em 1918, já com dezesseis anos, quando do enterro do ex-presidente Rodrigues Alves, em Guaratinguetá, passeava na plataforma da Estação Ferroviária o embaixador americano, Edwin Morgan, fumando um cigarro que, pouco usado, jogou na plataforma. Apanhei a ponta de cigarro e durante muitos anos a guardei, fumada que foi por um homem de inegável valor político. Hoje, entre outras coisas, as cartas de amigos e parentes queridos, abarrotam meu “baú de lembranças”. Se, pelo milagre da Imprensa eterniza-se a história de um povo, a correspondência epistolar entre amigos e parentes, que narra as contingências e episódios íntimos amortecidos pelo tempo, traz latente em nossas mentes o nosso passado, nossa história também. Hoje, ao manuseá-las, surpreendeu-me uma cartinha de uma menina, escrita após uma visita junto com outras colegas ao Museu Maestro Lorena, em 1981. Por um lapso de memória ou caduquice octogenária deixei de responder, do que me penitencio respondendo-lhe e fazendo de público minha descortesia:

“Cachoeira Paulista, 18 de abril de 1981.


Caro Nelson.


Eu queria dizer que tu és de grande importância para mim. Eu adoro coisas que representam o passado de minha terra. Você ou o Senhor representa uma grande importância para Cachoeira Paulista. Eu, há pouco, descobri que amo esta cidade. Nunca vou me esquecer de hoje, o dia mais importante para minha cultura, para com a minha cidade. É bom recordarmos de nossa cidade antiga. Quero algum dia ser algo de importante para minha cidade. Pretendo ser escritora e algum dia poder ajudar a minha cidade. Quero dizer Sr.Nelson que, para mim, o que o Senhor fez tem um grande valor, um valor fraternal. Obrigado. Aprendi muito com você.


Com muita emoção e carinho.


Valéria.”

Hoje, Valéria, respondo sua cartinha que trescala ingenuidade, inocência, simplicidade, bondade, candura; virtudes imanentes na criança que a escreveu com a pureza santificante que possuem as almas virgens. Conhecê-la pessoalmente, seria uma alegria e um prazer para mim. Suponho que, a jovem que já é você, tenha conseguido ser a escritora que desejava e gostaria de conhecer seus trabalhos, naturalmente inspirados no amor que você “descobriu possuir por sua terra”. Peço perdão pelos meus tropeços, comuns, ao fim da jornada.


*****


Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


Veja também:


NELSON LORENA – O ARTISTA CACHOEIRENSE


A ARTE DE NELSON LORENA



*****

Nenhum comentário :