LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.368, de 10 a 16 de setembro de 1984.
BUSCAI A VERDADE, ELA VOS LIBERTARÁ
NELSON LORENA
Vencendo a precariedade de nossos conhecimentos, de nossa linguagem e de nossa cultura, sob a força do amor à terra em que nascemos, havemos empenhado todos os nossos esforços ao jornalismo local, perpetuando pela imprensa a lembrança de alguém que pela sua terra viveu. Aquilo que a principio fazíamos por diletantismo, tornou-se obrigação, dever. E como nossos jornais seriam mais interessantes, se nossos preguiçosos valores intelectuais não fossem tão avaros, tão pouco bairristas! O assunto de hoje é a evolução do pensamento humano, abordado ligeiramente, em sua luta para romper o dogmatismo estático, intolerante.
Toda ciência é evolutiva e seus postulados, instáveis e transitórios. Seu valor real prende-se a uma época. Torná-los dogmas imutáveis, verdades eternas, é violentar a lei evolutiva do espírito, é configurar atritos que geram violência. Geralmente, toda idéia nova é combatida pelos conservadores e somente a prova experimental a consagra. Por mais de um milênio, a Escolástica da Idade Média e a Cúria Romana aceitaram como verdade os processos, digestivos e circulatórios, na ciência médica de Galeno; erro comprovado com a descoberta da circulação do sangue, por Harvey, dando novos conceitos à Medicina. A ciência astronômica errou por mais de quatrocentos anos, com o endosso da Escolástica e da Igreja à teoria Geocêntrica, a Terra imóvel no centro do Universo, proclamada por Ptolomeu. Copérnico corrige o erro e descobre o movimento em torno do Sol. Galileu, matemático, físico e astrônomo italiano aceita e defende, comprovando a descoberta de Copérnico. O tribunal do Santo Oficio o condena, por heresia, a abjurar, o que Galileu faz, para fugir ao tormento da fogueira. Hoje, seus condenadores repetem como ele: “E pur si muove”. Da Ciência Tecnológica, que dizer sobre ela? Humana, como todas as outras, sujeita, por isso mesmo aos erros, retratando-se à vista dos novos conceitos sobre as coisas divinas, muda de nome o intransigente Tribunal do Santo Ofício, tornando-o também mais brando, menos ortodoxo e mais condizente com as realidades modernas.
Vamos concluir, retornando novamente ao passado. Estamos em Ruão, na França, em 30 de maio de 1431. Todos os sinos repicam lugubremente. O drama toca ao desenlace, Joana D’Arc vai morrer queimada. “Ai de mim”, ela exclama, chorando. “Meu corpo, jamais violado, será hoje consumido e reduzido a cinzas!” E qual o seu pecado? Ouvir as vozes dos Santos, dos Espíritos, feitiçaria. O fogo ordenado pelo bispo Couchon reduziu Joana a cinzas que foram lançadas no Rio Sena. Há mais de quatro séculos, relapsa, apóstata, e feiticeira, hoje, Santa. Entre o “Não matarás” e a Canonização, os crimes de intolerância religiosa! Está, segundo afirmam, em julgamento pelo Ex-Santo Ofício o prelado Leonardo Boff, por defender os Direitos Humanos. Estamos certos de que o espírito de Cristo invade todas as consciências e a Teologia da Libertação se enquadrará no Evangelho de Jesus, em Espírito e Verdade.
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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