LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.368, de 04 a 09 de setembro de 1984.
”VINDE A MIM”
NELSON LORENA
Quando morávamos no Rio, contou-nos um colega de serviço que saía habitualmente para o trabalho às manhãs e retornava à tardinha. Residia em Jacarepaguá e, às vezes, chegava em casa à noite. Atravessava um trecho ermo e pouco aconselhável à noite, em virtude de ataques de cães agressivos. Um dia, em que relatava suas dificuldades e perigos, um amigo ensinou-lhe uma oração de efeito positivo que, em certa época de sua vida, sempre o pôs a salvo dos cachorros que assolavam uma favela do Pão de Açúcar, onde morou. Decorou a eficaz “oração pra cachorros”. Uma dessas noites de luar em que, até nós, somos levados a devaneios, “fazia serenata” a cachorrada quando, firme na oração, retornava ele ao lar. E, como a generalidade dos chamados cristãos, com coração vazio do “Vinde a Mim” e a boca cheia do “Venha a nós o Vosso Reino”, foi duramente atacado, tendo as vestes rasgadas. Ao relatar o fracasso da reza ao amigo, este lhe redargüiu: “Mas, você não levou nos bolsos umas pedras?” E, ante a negativa: “Reza pra cachorro não dispensa pedra!”
Não sabemos bem, até que ponto pode haver alguma relação entre a Independência do Brasil, agora comemorada, e a oração pra afastar cachorro. O fato é que, rememorando-a não posso deixar de mencionar os 18 de agosto de 1882, quando S.A.I., o príncipe D.Pedro passou, na tarde desse dia, no caminho do bairro de São João da Lagoa Seca e fez rápida refeição no Rancho dos Moreiras, às margens do Rio das Minhocas. Dia 25, entrou em São Paulo, onde dias após recebe por intermédio de Paulo Bregaro, correio de José Bonifácio, o manifesto aconselhando-o a proclamar a Independência. Com a recomendação de Bonifácio: “Se não arrebentar uma dúzia de cavalos no caminho, nunca mais será correio, veja o que faz!”, Bregaro alcança Sua Alteza e comitiva aos 7 de setembro, às margens do Ipiranga, onde D.Pedro solta o brado: “É tempo... Independência ou Morte! Estamos separados de Portugal.” Nasce assim o Brasil, como nação soberana e independente... politicamente. Conheci uma fase da vida da nação, em que o barco do Poder navegava de vento em popa, mas, de umas décadas pra cá, ao milagre econômico sucedeu-se a derrocada econômica. A trilha seguida infestou-se da matilha afeita à vida do Poder, sem a formação cristã do “Vinde a Mim”, que a Fé, a Justiça e o Amor refletem. Os extremos se tocam ao reportar-me ao colega de Jacarepaguá. Que os que lutam e se insultam pela posse do Poder, não se esqueçam de acrescentar às suas orações as pedras do infinito amor ao próximo. E, sob a égide dessa Virtude, veremos a amplidão de nossa independência material e espiritual.
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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