LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.399, de 06 a 12 de maio de 1985.
COINCIDÊNCIAS?!
NELSON LORENA
Tivemos oportunidade de apreciar o trabalho escrito por Maria da Glória Merchmen, de Taubaté, datado de 15 de janeiro deste ano. O assunto gira em torno de um episódio histórico, relativo à condenação e morte de Tiradentes. Admiramos e apreciamos o seu trabalho, pelos mínimos detalhes que vieram enriquecer seu valor literário. Nos meses que se passaram, advieram fatos e acontecimentos que nos trouxeram conclusões dignas de registro. No relato histórico, a autora compara Tancredo Neves a um novo Tiradentes. E, em sua exortação final, pede a Tiradentes que dê ao novo Tiradentes, nesse caso Tancredo, força, coragem e patriotismo bastante para conduzir o Brasil. O martírio de Tancredo apaixonou o Brasil inteiro, congraçando amigos e inimigos políticos num único sentimento de fraterna piedade cristã. Ficamos inconformados com o desfecho, em que víamos fugir as esperanças com que Tancredo nos acenava, após vinte anos de desilusões e promessas vãs. Por que essas coisas acontecem? Para tudo há uma razão de ser. Lembramo-nos das coincidências que regeram a vida de Lincoln e Kennedy. Teriam essas coincidências semelhantemente acontecido com relação à vida pregressa de Tiradentes e Joaquim Silvério dos Reis, seu denunciador, com extensão à vida de Tancredo? Notamos que Lincoln e Kennedy lutavam pelos direitos humanos. Lincoln foi eleito em 1860, Kennedy em 1960; um mesmo cadafalso recebeu Lincoln e Kennedy, ambos assassinados pelas costas, na presença das esposas e atingidos na cabeça. John Wilkes Booth, assassino de Lincoln, nasceu em 1839; Lee Harvey Oswald, assassino de Kennedy, nasceu em 1939. O secretário de Lincoln chamava-se Kennedy, o secretário de Kennedy chamava-se Lincoln. É evidente, no caso, uma ligação através de vidas sucessivas.
Ora, parece-nos haver certa correlação entre os destinos de Joaquim Silvério dos Reis, Tiradentes e Tancredo Neves, o novo Tiradentes. Todos, nascidos em São João Del Rey. Joaquim Silvério dos Reis denunciou Tiradentes em 15 de março de 1789. Tancredo tomaria posse em 15 de março de 1985; Tiradentes morreu no domingo de 21 de abril de 1792; Tancredo, no domingo de 21 de abril de 1985. Ambos morreram lutando pelos direitos humanos. Tiradentes teve seu corpo retalhado, Tancredo também o teve, embora de maneira mais humana. Considerando feitos, datas, circunstâncias e semelhanças de destinos, formulamos a hipótese, reencarnacionistas que somos, de que, sob o império evolutivo e fatal da ascensão da alma na intenção de Deus através dos erros cometidos, haja Joaquim Silvério dos Reis, o delator, escolhido retornar como criatura humana na pessoa de Tancredo Neves. Com as mesmas características morais de Tiradentes, sonhador, idealista, uma dessas criaturas que põem em espanto a própria natureza pelo seu destemor sem, contudo, sentir como resgate de provas na própria carne o suplício esquartejador mas, o bisturi implacável de suas últimas horas. Pagaremos ceitil por ceitil todos os erros cometidos e, para isso, Deus nos oferece as mesmas condições de nossas vítimas do passado.
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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