LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.398, de 29 de abril a 05 de maio de 1985.
O HOMEM E A MÁQUINA
NELSON LORENA
Lemos numa Enciclopédia a opinião de uma autoridade em Biologia e Medicina afirmando, com relação à inteligência e seus mistérios, que: “Comandando todas as reações afetivas é o cérebro que tem a capacidade de amar ou odiar, restando ao coração o simples papel de um músculo, passível de substituição. É o cérebro a sede da mente, onde nascem e se desenvolvem os pensamentos, a inteligência e a memória. Gênios e idiotas têm cérebros idênticos”. Embora leigos ao assunto, reintegrados que estamos agora na liberdade democrática, usando e abusando do direito de ir e vir, de pensar e dizer, queremos explorar o tema como assunto de nossa conversa semanal. É um conceito generalizado o de que o organismo humano, o Homem em si, é a obra mais perfeita de Deus. A estrutura complexa e perfeita de cada órgão, cada glândula, cada víscera, dos sistemas, circulatório, digestivo, respiratório, nervoso, do arcabouço ósseo, tudo enfim, é qualquer coisa de maravilhoso, divino! E, graças ao trabalho dessa máquina extraordinária, o progresso da humanidade se faz. Lemos na Bíblia “ganharás o teu pão com o suor de teu rosto”. É evidente que a frase, no futuro verbal, visava uma punição a longo prazo, dado que, como no momento iria viver Adão, sem sementes de trigo para semear, esperar nascer, crescer, colher e fazer o pão? Diante disso, rebelou-se o Homem, que até hoje luta para substituir o esforço físico pela máquina. Sua inteligência trabalha no sentido de vencer todos os obstáculos, seja na exploração do subsolo, na superfície da Terra ou na estratosfera. Aparelhos e engenhos os mais sofisticados são construídos e as dificuldades e realizações, muitas das quais consideradas impossíveis, vêm sendo removidas e conseguidas.
Mas, as máquinas não podem prescindir da inteligência humana que as aciona. Sem essa, são elas inertes, estáticas, abúlicas por fim. Sem uma de suas peças, deixam de funcionar e os recursos da inteligência do homem são reclamados. Se na máquina humana um órgão está lesionado, os seus movimentos e atividades normais ficam comprometidos, mas isto não a impedirá de amar ou odiar, não impossibilitará as reações afetivas e as manifestações de inteligência, todas inerentes à alma, e não, ao corpo. Se gênios e idiotas tem cérebros idênticos, como se explica a presença no cérebro de Marco Aurélio, o mais virtuoso e sábio dos imperadores romanos, a inteligência e as virtudes que faltaram no de seu filho, Cômodo, tirano e cruel? Cremos, e isto é ponto de fé, que nossa alma, sede da virtude e da inteligência, constitui a força ativa que comanda a atividade do corpo, o qual, deixa de pensar quando a alma o abandona. Dado o axioma de Virgilio, “Mens agitat molem”; à maquina humana, falta-lhe trabalho e ação, sem o homem; ao cérebro humano motor do corpo, falta-lhe inteligência e vida, sem a Alma.
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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