SIMILIA SIMILIBUS CURANTUR

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.401, de 20 a 26 de maio de 1985.




*SIMILIA SIMILIBUS CURANTUR

NELSON LORENA



Não há quem não medite e não tire as próprias conclusões sobre os problemas que se relacionam com a vida. Essas variam, de conformidade com o nível cultural e moral das pessoas. No âmbito limitado e estreito do nosso raciocínio, atrevemo-nos a comentar aquilo que observamos sobre os fatos e problemas que a todo instante nos assoberbam. Coisas, muitas vezes banais, pela sua constância desviam nossa atenção de atividades onde ela seria mais necessária.

Há poucos dias, pusemo-nos a observar o vai-e-vem de milhares de formigas saúvas, no incessante trabalho de construção de seu lar. Pequenos seixos e gravetos, folhas picadas, quase todos equivalentes ao seu próprio peso e porte, eram carregados e rapidamente transportados a uma distância de cinqüenta metros, para um formigueiro no topo de um barranco de três metros de altura, cortado a prumo como se uma fosse uma parede.

Consideradas as devidas proporções, pensei em como se comportaria o homem se, na luta pela própria sobrevivência e da sua espécie, fosse obrigado a percorrer uma légua com um peso de setenta quilos às costas para construir sua habitação e ainda ter que galgar uma muralha de cento e oitenta metros de altura...! Tarefa impossível para qualquer ser humano, mas, comum para um ser inferior, cujo instinto leva a um desprendimento, dedicação e solidariedade, que supera os racionais. Movemos-lhes guerra pelos prejuízos materiais que habitualmente nos dão. Mas que é o mal? Que é o bem? Forças inseparáveis na construção do mundo que verificamos em todos os reinos da Natureza. Dos venenos da beladona, da estricnina, da maconha, do ópio e de outros alcalóides, extraímos remédios para diversos males. Consta que Ândrocles, escravo romano lançado às feras, foi poupado pelo leão que, em caçadas pela África, ele havia salvo arrancando-lhe alguns espinhos das patas, que o privavam de caminhar. No Homem, perversidade e piedade se confundem. No leão, ferocidade e gratidão. Vimos pela televisão, criminosos, indivíduos considerados perigosos à sociedade rebelarem-se na prisão pelas péssimas e imundas instalações que lhes deram, impossibilitando-lhes sobreviver. Fizeram um pacto de morte, eliminando por sorteio um a cada semana, para que os sobreviventes pudessem alimentar, um dia, a esperança de ver o sol da liberdade. Ofereciam assim, no infortúnio, suas vidas por amor ao semelhante. E, quem faz isso? Os marginais, os indesejáveis, os párias da sociedade, os criminosos, que perante os homens se revelam superiores àqueles que os confinaram numa prisão infecta! Paradoxalmente, assistimos os homens da lei, intelectualmente preparados para o seu cumprimento, não saberem como tirar do meio venenoso o Bem, que o Mal em essência possui.

*O semelhante cura o semelhante.


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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


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