LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.403, de 03 a 16 de junho de 1985.
A EXCEÇÃO DA LEI
NELSON LORENA
Há, evidentemente, uma continuidade genética na formação dos seres humanos, quer física, quer espiritualmente. Semelhanças entre anomalias e caracteres de personalidade, de temperamento, manifestações patológicas, levam-nos a afirmar, admitir mesmo, a presença dos fatores hereditários em nossa formação.
A Ciência médica menciona uma serie infindável de anomalias patogênicas hereditárias e em nossa longa vivência constatamos em famílias de nossa relação, casos de câncer, varizes, cardiopatias, alienação mental e muitas outras que a Medicina em seu constante progresso, já consegue erradicar ou prevenir com a punção e o exame cromossomático do liquido amniótico.
É comum, constatarem-se nos descendentes as características constitucionais dos seus ascendentes. Mas, esse notável atavismo não é invariável, mormente quanto aos fatores que emanam da parte psíquica do ser humano, como o caráter, a honestidade, a honra, a moralidade. À frente da tela que pintamos, sobre a passagem do Príncipe D.Pedro por Cachoeira em 18 de agosto de 1822, veio-nos a inspiração para o tema em foco. Veio imediatamente à nossa memória a decepção de Sua Alteza no baile que lhe foi oferecido em Pindamonhangaba, pela ausência das beldades locais, proibidas pelos pais de participarem com receios de que se queimassem na ardência sensual do jovem Príncipe, tal era a sua fama. Seu casamento com Leopoldina e, mais tarde com Amélia, não arrefeceu sua febre de conquistas e aventuras, incompatíveis com a dignidade real que deveria possuir. Seu título, seu poder, sua mocidade ardente, eram as armas de que se prevalecia para as suas conquistas. E seus frutos, que a História muitas vezes indiscreta e irreverente nos aponta, enumeram uma vintena de filhos entre os naturais, com a Marquesa de Santos, com as francesas, Noémi Thierry e Clémence Saisset, com a baronesa de Sorocaba, com a uruguaia, Maria del Carmen Garcia e com a monja do Porto, Ana Augusta, em Portugal, e sete filhos legítimos com Leopoldina e um com Amélia.
Nosso Pedro II, foi o único varão legitimo a herdar o trono e tão somente o trono, pois, se a transmissão genética de fatores físicos entre pais e filhos é uma lei, entre Pedro I e Pedro II, constituiu exceção, tanto na postura física, como moral. Neste particular, não se pode estabelecer paralelo entre ambos. Considerado o imperador mais culto de seu tempo, de reconhecida bondade de coração e que lhe valeu as alcunhas, “Pedro Banana” e, “o Magnânimo”, casou–se com Tereza Cristina, por procuração, e, mesmo não a achando bonita, soube o casal impor-se como esposos e pais amantíssimos. Há um século possuía ele virtudes pouco comuns aos chefes de Estado atuais. Viajando pela Arábia, Egito, Europa, por toda a Palestina e Estados Unidos, jamais permitiu lhe fosse concedida qualquer ajuda de custo.
O axioma “tal pai, tal filho”, nem sempre encerra uma verdade.
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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