A ARTE DE ENVELHECER

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.476, de 24 a 30 de novembro de 1986.



A ARTE DE ENVELHECER

NELSON LORENA


Há vinte e cinco anos, precisamente, nosso extraordinário Pai, o Maestro Lorena, encerrava mais um capítulo na eternidade de sua existência. Oitenta e cinco anos e seis meses bem vividos e, igualmente, sofridos. Orgulhava-se ele de sua fortaleza física e, já em sua última década de vida, sem nunca perder o bom humor, não gostava que o considerassem velho. Lembramo-nos que, em certa ocasião, um garoto lhe chamou de ‘véio’. Ele dirigiu-se ao menino e disse; “Olha, seu malcriado, não é ‘véio’ que se diz, sabe? É, velho, ouviu? Se sua mãe não lhe ensina, você fica agora sabendo.” Naquele tempo, como agora, tinha tal termo, um sentido pejorativo.

Essa fase etária da existência, adstrita que está ao envelhecimento físico e psíquico do homem, continua de alguma forma a influir na marginalização humana. Fisiologicamente, sentem os idosos a deterioração de sua capacidade vital. Percebem a perda gradativa da capacidade visual, obrigando-os ao uso dos óculos. O olfato se reduz e o comprovamos por experiência própria. A ciência ensina que a perda de peso do cérebro e conseqüentemente das células, diminui os estímulos e a velocidade das conexões nervosas. A fixação dos fatos e a sua transmissão tornam-se vacilantes e, quando notado, concorre para o afastamento social voluntário do idoso. O envelhecimento é a falência gradual de todas as funções orgânicas, assim julgamos. A capacidade de trabalho de todos os órgãos diminui, na medida em que a idade caminha e, quando isso sucede, é a velhice. Entretanto, na lesão funcional de um órgão isolado, configura-se a doença. Pessoalmente, encontramos meios de contrabalançar e atenuar a marcha inexorável do destino, tornando-a psicologicamente mais suave, mais condizente com o comportamento e a dignidade do homem. No trabalho, constante e sem tréguas, encontramos uma forma de relacionar-nos, como idosos, com o meio ambiente e de nos transformarmos, de espectadores em atores. Criamos para uso próprio uma Arte de Envelhecer, como uma nova modalidade das que permanentemente cultivamos. Sempre que, por qualquer razão, nossa ação é interrompida, passamos para outra, jamais permitindo que se crie o limo da estagnação sobre os nossos dias, que desejamos sejam úteis. Façamos todos, do trabalho, ponto de Fé de nossa saúde e a razão precípua de nossa caminhada por este Mundo.


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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


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