UM PREITO DE SAUDADE

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.472, de 27 de outubro a 02 de novembro de 1986.



UM PREITO DE SAUDADE 

NELSON LORENA


Era o ano de 1934. Ocupávamos a presidência da Sociedade Espírita local, com a incumbência de hospedar o ilustre líder da doutrina, professor Leopoldo Machado, de Nova Iguaçu. Na manhã desse dia, ao acordarmos, notamos ao nosso alcance o periódico “O Clarim”, ocasionalmente, aos nossos pés. No mesmo instante, antes mesmo que nos levantássemos, passamos à sua leitura, como jornal espírita que era. Deparamos, logo de início, com uma poesia rogativa intitulada, “Prece”, de autoria de Leopoldo Machado. E era justamente aquele, o dia em que ele faria sua visita ao nosso Centro. Sua “Prece”, em forma poética e encantadora, convidou-nos a musicá-la ali mesmo e, ainda na cama, compusemos a música. Passados alguns instantes, chamamos o nosso vizinho, o adolescente Paulo, garoto possuidor de boa voz, e o intimamos a cantar na cerimônia em homenagem ao visitante, a sua rogativa em versos. Paulo Nascimento aprendeu a melodia com incrível facilidade e à noite cantou-a, para maior segurança, com os versos em mãos. Leopoldo Machado, visivelmente comovido, agradeceu, considerando-nos os pioneiros da música espírita no Brasil, pela bela voz do jovem Paulo.

Meio século ou mais, a trajetória desse garoto no terreno da arte musical e do teatro foi digna dos melhores encômios. Até os últimos dias, quando ocasionalmente nos encontrávamos, cantava as baladas do drama de Alberto de Barros, “Descerrando o Véu”, com o mesmo entusiasmo dos idos tempos! Seus rastros, suas pegadas deixadas no palmilhar da vida, contam bem uma história de alegrias proporcionadas à cidade com seu jazz-band “Nova Aurora”, com suas músicas, com seus carnavais, com o som mavioso do seu trompete. Paulo Nascimento, este valor inconteste de nossa arte musical, compositor e instrumentista, um dos últimos bastiões de uma arte que agoniza em nosso meio, morre os sessenta e sete anos, de maneira insólita, brutal e imprevisível. Colheu-nos de surpresa o seu desenlace, deixando com imensa amargura um incompreensível vácuo na vida social de nossa terra. Não podíamos deixar de lamentar tal acontecimento e, nem tampouco, silenciarmos ante o dever que nos impõe a nossa derradeira Homenagem ao discípulo e amigo.


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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


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