AS TELAS DA VIDA

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.450, de 04 a 10 de agosto de 1986.



AS TELAS DA VIDA

NELSON LORENA


Em certa ocasião, fomos em visita a um amigo, residente em Lorena. Já havíamos pintado dois quadros, a seu pedido, para a Casa da Cultura daquela cidade. A conversa entre nós, pintores que somos, versou sobre a arte que praticamos e, fomos convidados a ver seu retrato pintado por um outro pintor de nossa cidade, seu amigo, artista cachoeirense de grande valor. Julgávamos ver um trabalho em que, logo à primeira vista, o reconheceríamos. Deparamos com um escorpião entre um entrelaçamento de cores, que se confundiam num emaranhado policrômico.

Sem saber penetrar na alma do artista, que tão bem soube transubstanciar as virtudes que definiam a personalidade do nosso amigo em cores, ouvimos deste as explicações e os esclarecimentos e, através dos quais, começamos a entrever o valor da obra.

Deus, o Supremo Artista do Universo, também pinta os quadros que positivamente retratam as belezas das coisas que fazem a vida tão bela: o sorriso de uma criança - a coisa mais bela e mais cara do mundo, a alegria da mãe, o choro do recém-nascido, o amor fraterno, as alegrias de um bom namoro, os filhos, o amigo, o céu, o mar. Aspectos compreensíveis das telas, que diante de nossos olhos perpassam e, justamente, falam da bondade Divina.

Ficamos, às vezes, como diante do retrato de nosso amigo em Lorena, quando contemplamos as telas divinas que nos falam dos terremotos, das grandes catástrofes da aviação, de trens, no mar, de romeiros afogados ou esfacelados na Rodovia Dutra, de uma família inteira eliminada na Austrália, no inesquecível e bárbaro assassinato do Padre Juca após rezar a missa, no dantesco drama dos flagelados do Nordeste e sem nada compreender, pois, se “não cai uma folha de uma árvore, sem que Deus o queira”, e até os cabelos de nossa cabeça estão contados...

Estes quadros, aparentemente incompreensíveis para o vulgo divorciado da Lei de Causa e Efeito, de ação e reação, por isso mesmo, chegam a pôr em dúvida a Justiça Divina.

Considerando o homem no complexo de Espírito e Matéria e, por conseguinte, vivendo em dois planos, não nos é lícito fugir da Verdade de que, em alguns desses planos cometemos uma Ação cuja Reação, agora sofremos. As cores, ameaçadoras e duras que vemos na tela do mundo, expressam as guerras, a violência, a destruição do homem pelo homem, e a ausência do “amai-vos uns aos outros”. Tudo no Universo tresanda a Paz e Harmonia. Somente o homem as quebra e sofre as reações, apesar de ainda possuir no coração o divino dom do Amor.



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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


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