EXCENTRICIDADES DE NOSSA LÍNGUA

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.425, de 11 a 17 de novembro de 1985.




EXCENTRICIDADES DE NOSSA LÍNGUA

NELSON LORENA



Constantemente ouvimos falar em liberdade de pensamento, como se ele fosse alguma coisa sujeita a restrições. O pensamento, como abstração que é, escapa a qualquer medida proibitiva. E tal medida, somente teria sua razão de ser quando, transformado em ação, fosse o pensamento prejudicial aos interesses da coletividade. Vimos num mapa de uma Rodoviária o nome de nossa cidade como “Cocheira” e seriam assim, “cocheirenses” os nascidos em Cachoeira. A tradição justifica, muitas vezes, os nomes extravagantes de nossos municípios e, transformá-los em adjetivos pátrios como, cachoeirense, cruzeirense, etc., torna-se impossível, como veremos. Há poucos dias, trouxeram-nos os jornais uma lista de municípios exigindo modificações nominais. Quando estudávamos Geografia, achávamos um absurdo a existência em Minas Gerais, estado sem litoral, de uma cidade com o nome extravagante e sem cabimento de, Mar de Espanha, cuja semelhança é apenas na superfície. Somos pela tradição, mas há ocasiões em que ela se torna ilógica, incoerente, exigindo nomenclatura cabível. E, assim, os municípios de nomes absurdos e que estão a exigir mudanças, por prejudiciais que são aos interesses dos estudos toponímicos. Existe no Maranhão uma cidade chamada Nova Yorque e, pelo Brasil afora, Resfriado, Sumidouro, Há Mais Tempo, Tuntum, Deus Me Livre, Graças A Deus, Nos Convém, Oco do Mundo, Vassouras, Volta Redonda, Não Me Toques, e, vão se chamando por aí, “nãometoquenses” aos filhos do lugar, como sugere o informante. A riqueza de nossa língua nos dá, em abundância, os recursos cabíveis para superar esses inconvenientes. Na área esportiva, há também curiosidades da língua, quando mal interpretada sob o véu da letra. Lemos no Valeparaibano; São José viu nascer o primeiro bebê de proveta! Leão engoliu um frango; grande novidade para o animal que arrasta um boi! A Portuguesa caiu de joelhos ante o São Paulo! Santo Amaro não pode mais crescer! Santos vende batata! São excentricidades de nossa Língua farta de recursos, cujo aproveitamento, bem conduzido, faz o seu progresso à sombra de uma democracia, bem conduzida.


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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


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