HÁ TEMPO DE NASCER E TEMPO DE MORRER

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.411, de 05 a 11 de agosto de 1985.




HÁ TEMPO DE NASCER E TEMPO DE MORRER 
( Eclesiastes )



NELSON LORENA



Faz exatamente vinte e quatro anos que não vejo meu extraordinário Pai, mas o sinto a todo instante. Em minha vida pública foi ele o meu guia e o meu melhor amigo. Outro o tive, igualmente, em minha vida funcional, Alberto de Barros. Comungávamos a mesma crença e, dizia-me ele em nossos diálogos: “O espírita é um homem do seu tempo”. Meditando sobre o que de oculto encerrava essa sua frase, lembrei-me de uma outra equivalente, no Eclesiastes: “Há tempo de nascer, há tempo de morrer”.

Filosofando sobre este pensamento bíblico, conclui que o homem, dentro da faixa de seu tempo, deve aplicar todo seu esforço e aptidões na edificação do mundo e da família humana à qual pertence, seja na Ciência, na Jurisprudência, na Política, na Medicina, na Caridade, no trabalho em geral. Sobre as rodas de tais atividades é que a humanidade caminha.

Desde tenra idade tive a felicidade de compreender o problema, dedicando-me à musica, ao estudo da pintura, ao magistério leigo, à escultura, ao jornalismo, ao urbanismo, à religião, com a pretensão bairrista de colaborar para a projeção de nossa modesta cidade e seu povo, no Vale. Recebi muitos estímulos, alguns elogios e, alguma ingratidão de irmãos e amigos, também se fez sentir.

Resolvi ser um Homem do meu Tempo e consegui. Despertou-me ele agora, no ocaso, para coisas estranhas que se passaram. Agressões, mutilações e abandono, de há muito vem sofrendo minhas obras, feitas com amor e carinho, sem nenhum interesse lucrativo. O São Cristóvão derrubado, a Mãe Preta e o soldado na Praça, mutilados, a rejeição do monumento agropecuário, o abandono dos projetos da pista dupla da Avenida Maestro Lorena, da passagem subterrânea da via férrea, do embelezamento da fonte da Mão Fria, despertaram-me para as conclusões. Tudo tem sem Tempo. As exposições de Arte, organizadas pelo Clube recreativo da cidade, vieram tornar mais claras as razões daquilo que, até então, me era estranho.

Um novo conceito de Arte desponta pelo valor das obras ali expostas. Gente nova, mentalidade nova, concepções novas e, à lembrança do Alberto de Barros, o artista também é um homem do seu tempo. O meu já se passou. As mágoas, os dissabores e as desilusões foram sufocados com as esperanças alvissareiras de um advento de progresso, que tanto almejamos para nossa terra. Que o Terceiro Milênio, ainda com o Eclesiastes, encontre os nossos filhos alegrando-se e fazendo o Bem, enquanto lhes dure a Vida.



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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


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