SOBRE A SEMANA DO ARTISTA

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.413, de 19 a 25 de agosto de 1985.




SOBRE A SEMANA DO ARTISTA

NELSON LORENA



Encerrada há duas semanas, a semana do artista Cachoeirense ainda faz eco pelo brilhantismo do sucesso alcançado. Não poderíamos silenciar e deixar de retratar, embora em rápidas palavras, aquilo que sentimos, como filhos dessa terra, pela elevação espiritual de sua gente, retratada com a habilidade de suas mãos nos trabalhos apresentados nas várias modalidades do artesanato, pintura, escultura, cerâmica, fotografia, moda, música e outras.Cachoeira mostrou ao Vale as possibilidades de seu povo e do que é capaz a modéstia, a simplicidade, a humildade, o altruísmo, em função do senso artístico.

Por motivos, além de nosso desejo, deixamos de comparecer à homenagem prestada ao nosso amigo e filho espiritual, o artista Jairo Ramos. Foi uma pena. Queríamos expressar-lhe, ainda mais uma vez, tudo de digno e merecido na justa homenagem, a mais lídima e alta expressão da arte cachoeirense.

Não é fácil ao artista da pintura passar para a tela através das cores, as concepções abstratas que a alma em seu subconsciente retrata, e Jairo o faz com engenho e arte, segundo uma expressão muito própria de seu pai: “Não raras vezes sentimos e vemos a beleza das coisas em nosso subconsciente, mas não possuímos o poder de fazer penetrar essa beleza no âmago da alma alheia”.

E, assim foi que tivemos uma obra nossa, rejeitada. Era uma vaca, seu úbere a quarenta centímetros do solo obrigava o bezerrinho a ajoelhar-se nas patas dianteiras para alcançar o mamilo. Propositadamente o fizemos, por considerar interessante e graciosa a posição instintiva do recurso empregado pelo bezerrinho. Foi rejeitada porque o bezerro não mama como o cabrito. Na beleza que vimos, acharam o que não vimos. Uma questão de gosto. Ainda hoje, apreciamos um quadro de Picasso, “O Guitarrista”, e o achamos horrível e incompreensível, no cubismo de suas linhas. Picasso, achou-o digno de seu nome e fama. Mas voltemos à Exposição e ao Clube Literário, onde, há 63 anos desfrutamos de honorabilidade. Quem vê as primeiras poças de água que afloram nos Andes do Peru e dali formam o Amazonas, não calcula que o gigante empurra o Atlântico, a quatrocentos quilômetros de nossa costa. Que o deserto do Saara, começa com um único grão de areia, que a luz que mais brilha no mundo, nasceu numa manjedoura. Lembramos que na posse da primeira diretoria do Clube, o presidente em modesta locução dissera: “Quem sabe se desta reunião de gente tão simples, sairá o assentamento da primeira pedra de um grande clube futuro?”

E o vaticínio se realizou, através de várias administrações e com a colaboração dos poderes públicos, ai está o clube despertando a cidade para as mais belas e úteis realizações.



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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


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