QUEM VIVER, VERÁ!

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.415, de 02 a 07 de setembro de 1985.




QUEM VIVER, VERÁ!

NELSON LORENA



Havemos dito e continuaremos a julgar o Homem, como o mais inteligente e mais estúpido dos seres da Natureza. Em maior ou menor escala, possui ele esta condição, paradoxal e antagônica, que permanece em seu íntimo acionando a consciência e o sentimento de haver feito o que não deveria, e o que deveria, não o fez. Premido por essa situação e suas conseqüências, sente-se inseguro quanto à sua sobrevivência, seu futuro permanece sombrio. Muitas vezes, lança mão da violência e se prevalece da força e do poder, concretos em seus efeitos, menosprezando o que, em abstrato, suas religiões lhe prometem. Até nas labaredas da guerra, sacrifica a juventude futurosa, manda-a ao sacrifício, impõe-lhe o holocausto e, na comodidade de seus tronos e poltronas aveludadas, dá-lhe cinicamente as honras de “Heróis da Pátria”. Tal é a fase, que estamos passando. O “nada é, tudo vem a ser”, atribuído a Heráclito, continua. As religiões nada são, mas virão a ser. Impotentes para fazer do homem, de modo absoluto, a mais perfeita obra divina estão, por enquanto, desmoralizadas física e moralmente em seus objetivos e finalidade.

Ao fitarmos o céu, ficamos deslumbrados com a beleza, a paz, a solitude, a harmonia, com os atrativos daquela página, onde a história de Deus é contada. E, ao voltarmos os olhos, caímos na realidade da Terra, recanto onde tristemente a Paz deixou de existir desde que o Homem pisou o seu solo. A propósito, veio-nos à mente um fato curioso e oportuno. Quando nossa filha caçula tinha quatro a cinco anos revelou-nos, entre outras coisas, na simplicidade, pureza e inocência da idade, que ao ingressar na vida terrena, todas as pessoas com as quais convivia no céu, ficaram chorando. E, o seu choro ao nascer, era o protesto ou a mágoa, da célica paz perdida. Parece-nos que, das palavras sentimentais das crianças, com a autoridade divina que as reveste, em manifestações ultimamente noticiadas em várias partes do mundo, deveremos crer que no advento do terceiro milênio, será estabelecido o Reino de Deus, não mais pela palavra dos profetas, mas tão somente pela das crianças, às quais, como nos disse Jesus, o Reino de Deus pertence. Samantha Smith, a menina americana que escreveu uma carta a Yuri Andropov, tornou-se um símbolo da renovação do sentimento humano. Ela entendia aquilo que a megalomania belicosa dos poderosos não entende. Disse-lhe ela sobre os receios e as conseqüências de uma guerra entre as duas potências e foi recebida com honras. Tinha então, apenas 12 anos. E agora, aos 14, morre juntamente com seu pai em um desastre de avião. A imprensa soviética teceu os maiores sentimentos e elogios à pequena menina de coração grande. A semente, lançada, está dando seus primeiros frutos. De nossa modesta Cachoeira, também está partindo um brado de revolta contra a história belicosa da guerra nuclear. Temos em nosso poder a repulsa, escrita por um menino de quatorze anos que, entre outras coisas, diz: “Tamanhas carnificinas, guerras sangrentas, cruentas mortes, assassinatos, a que isso nos levará? Despertem-se do desamor, da angústia, da falsidade, respeitem uns aos outros, amem-se como  verdadeiros filhos de Deus que são. Roguemos a Deus, para que nos dê consciência, para que possamos reconhecer nossos erros e neutralizá-los com atitudes corretas”.

O futuro do mundo, na revelação da Criança. Quem viver verá!



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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


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