JUSTA HOMENAGEM

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.409, de 22 a 28 de julho de 1985.




JUSTA HOMENAGEM

NELSON LORENA



Existem três fases distintas na história do mundo: Passado , Presente e Futuro mas, na história do homem a ordem dessas fases se modifica. Na juventude prevalece o Presente, na maturidade o Futuro e na velhice, o Passado. É esta uma constante, mesmo que mesclada de dor e prazer. Ao iniciar a terceira centena de nossas crônicas, que outra razão as justifica se não a de ser útil a nossa cidade, prestigiando as boas iniciativas e demonstrando através da imprensa, gratidão e respeito aos valores humanos?

Constitui-se um fenômeno natural da senectude, o fato de alguém repetir uma história, mais de uma vez, à mesma pessoa que, geralmente compreensiva e educada, o tolera. E, nesse caso, justificando nossa ausência por motivo de saúde, ou melhor, por falta dela, a um amigo reiteramos a homenagem que já anteriormente lhe foi prestada.

Era agosto de 1912. Morávamos em frente ao Teatro Municipal. Estávamos envolvidos por uma mortalha de dores e luto. No curto espaço de dois meses, morriam duas de nossas irmãs. Os pais do amigo, futuro médico e doutor em potencial, compartilhando da dor que nos enlutava nos visitaram. Desde a infância, sempre adoramos as crianças, as mais belas e mais caras jóias deste mundo. Nossos amigos trouxeram um menino louro, tão louro como as crianças das margens do Rheno e que tomamos ao colo, enquanto as palavras consoladoras e os lamentos de seus pais envolviam os nossos. O tempo, correndo sempre adiante, distanciou-se, deixando as cicatrizes. Rememorando alguns episódios passados, vemo-nos em casa desse amigo numa sua festa de aniversário, teria ele mais ou menos cinco anos de idade, vestia um paletozinho cintado azul e calça branca, mas ia já se acentuando o tipo morfológico brevilíneo de hoje. Chegando à idade escolar, no primeiro dia de aula, ao responder à chamada ao professor, diz, “trezento”, ao invés de, “presente”, sob o riso disfarçado dos colegas. Já adolescente, freqüenta o Ginásio em Lorena. Newton de Barros, era seu colega. Sua inteligência e simpatia natural se impõem e, juntamente com Newton, torna-se, algumas vezes até mesmo em árbitro de divergências, ocasionalmente suscitadas entre alunos e professores. Mais tarde, faz o curso de Farmácia e, por fim, cursa medicina, formando-se em 1940. Deixou, para alívio do nosso vizinho, um breve curso de violino, para dedicar-se à arte de curar. Dizia, pois, o vizinho, não agüentando o violino do nosso aluno: “ou ele vai embora ou eu mudo de casa”. Coisa e questão de gosto, o peru também não gosta de música. Mas, o Médico torna-se um autêntico tipo hipocrático e, tal qual, um sacerdote da Medicina. Cumprindo com fidelidade o aforismo de Hipócrates, onde o amor ao doente é o amor à Medicina, faz graciosamente o exercício de sua profissão, quando o doente não possui os recursos para pagar seus emolumentos. Isto é, em síntese, o que sabemos da Personalidade do Ano, cuja homenagem foi-lhe prestada pela sociedade cachoeirense. E, esta foi a nossa participação e de nossa família numa amizade de gratidão de setenta e cinco anos.



OBS: A homenagem de Nelson se refere ao Dr.Carlos da Silva Lacaz, já retratado em sua crônica:
http://oslorenas.blogspot.com/2010/01/carlos-da-silva-lacaz.html


*****


Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


Veja também:


NELSON LORENA – O ARTISTA CACHOEIRENSE


A ARTE DE NELSON LORENA



*****

Nenhum comentário :