HERÓIS DA PÁTRIA! MAS, A QUE PREÇO?

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.435, de 03 a 16 de fevereiro de 1986.



HERÓIS DA PÁTRIA! MAS, A QUE PREÇO?

NELSON LORENA


Estranhamos, cada vez mais, a psicologia do mundo no julgamento de seus filhos. A que preço, para nós, está a conquista da Glória?! Imortalizam-se criaturas cujo valor nasceu no terreno poluído das desgraças alheias e na imposição de deveres e ordens, criados pelos homens. Condena-se ao esquecimento, aqueles que no silêncio e no recolhimento dos seus lares, dos laboratórios, das escolas, dos hospitais, dos templos de meditação e de fé criaram para a humanidade, sem preocupações egoístas, bases seguras à sua felicidade, não raro, com o sacrifício da própria vida. Há tempos, tivemos a notícia de que um radiologista, em Paris, em virtude de queimaduras provocadas pela ação das radiações, sofreu a décima oitava operação cirúrgica, sendo-lhe amputados os dois braços. Sua dedicação, seu amor à carreira que abraçou e a perda de dois braços, não foram bastante para consagrá-lo como “herói”. Morreu no anonimato, sem as pompas cínicas dispensadas atualmente àqueles que não morreram pela sua terra mas, ao contrário, foram mortos pelos seus ambiciosos e belicosos donos. É do conhecimento de todos, a discriminação racial entre negros e brancos nos Estados Unidos, desde os tempos dos generais, Lee e Ulisses Grant. Pois bem, Martin Luther King, líder negro, defensor dos direitos humanos de sua raça, foi assassinado em 1968. A quem interessaria sua morte, senão aos brancos? O impacto produzido mundialmente pela sua morte, levou o governo branco a considerar feriado nacional, a data do seu assassínio. Versatilidade comum, do critério do julgamento humano. Um caminhão suicida, carregado de toneladas de dinamite, invade o alojamento dos soldados americanos no Líbano e explode, matando duzentos e setenta. Retornam à pátria as urnas, com os corpos esfacelados e irreconhecíveis, muitas das quais, vazias, e simbolicamente recebem como ficha de consolação as honrarias de “heróis”, sob as vistas e as dores das famílias enlutadas.

Este sempre foi, e assim será, o caminho das efêmeras glórias humanas. Há poucos dias, vimos sete astronautas caminharem sorridentes para a morte, pouco antes de sua desintegração no espaço. Observações e estudos científicos deveriam ser feitos por eles mas, o objetivo principal seria testar a eficácia do engenho para sua utilização no programa nuclear “Guerra das Estrelas”. A professora Christina McAuliffe daria, do espaço, uma aula para as crianças e os adultos, sobre o comportamento humano na imponderabilidade. Milhares de crianças viveram um sonho que, no fogo e na fumaça da explosão, se dissipou. E a aula, não foi dada...

Somente o Amor fraterno construirá as obras eternas, em que as glórias dos homens não mais nascerão da violência e das ambições humanas.


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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


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