LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.422, de 21 a 27 de outubro de 1985.
O SACRIFÍCIO COMPENSA
NELSON LORENA
Admiramos a Política, como Arte que é, na conquista do Poder. Detestamo-la, quando em politicagem transformada. Estão batendo às nossas portas as eleições para o Estado e sua Capital. Governar São Paulo é governar uma nação. Sua capital, como terceiro orçamento da União, equivale a um Estado. Governá-los significa uma responsabilidade de conseqüências imprevisíveis quanto aos problemas, moral, social e econômico, considerando-se as dificuldades financeiras que o País atravessa. Resulta, de toda essa campanha que os meios de comunicação nos trazem, uma pletora de candidatos. Todos ávidos de esperanças, transbordantes de otimismo e aparente desprendimento diante dos graves e quase insolúveis problemas que assoberbam nosso povo. Ante tantas decepções testemunhadas nos longos anos de nossa existência, tantas promessas feitas e não cumpridas, tanta veleidade, chegamos a pensar: Quais os sentimentos que os move? Patriotismo sincero? A vaidade de mandar, o conforto, as honrarias, a abastança, do Poder decorrentes? “Chi lo sa”.
Na luta pela sobrevivência, como também na guerra, todos os meios são válidos. A Vida é uma guerra constante. O homem é uma criança dilatada, uma criança grande, suas reações são iguais, levadas e consideradas as diferenças de idade e antropométricas.
Na época em que a floração fecundada escasseia as abelhas invadem nossa cozinha, atraídas pelo odor adocicado dos doces habitualmente feitos no lar, ocasionando acidentes desagradáveis. Certa ocasião, fomos obrigados a procurar o foco nas adjacências, para controlá-lo. Não nos foi difícil encontrá-lo. Em torno de uma secular figueira, um magote de meninos, já adolescentes, com panos queimados e fazendo fumaças, afugentava o enxame localizado na talisca do tronco. Vez por outra, saiam correndo, dando petelecos na cabeça e nas orelhas, ante as picadas do terrível himenóptero, mas conseguiam levar o mel.
Advertidos quanto ao perigo da picada com a inoculação do veneno na circulação sangüínea, alguns garotos vieram até a cerca divisória em que nos achávamos, para agradecer nossos conselhos.
Lembramo-nos que, ao se retirarem carregando o mel em latinhas, disse-nos o maior dos garotos: “Não sabíamos que era perigoso, mas vale a pena. O sacrifício compensa”.
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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