LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.428, de 01 a 08 de dezembro de 1985.
OS MAGNOS PROBLEMAS DO ESPÍRITO
NELSON LORENA
Evidentemente, há coisas que acontecem. Mas, por que acontecem? Remontando às causas chegaremos a uma reposta lógica. No entanto, nem sempre nosso raciocínio nos leva a uma resposta satisfatória, concludente. A alguns, porque não se situam na elevação moral, cultural, ou ainda espiritual, dentro das quais as causas se tornam claras, evidentes, irrefutáveis. Outros porque, embora queiram determiná-las, sentem-se frustrados ante a barreira da incompreensão, atrelada à imaturidade do espírito. É o nosso caso.
Moravam numa casinha de favela, duas irmãs. Ambas empregadas domésticas, mães de duas meninas de cinco anos respectivamente, que ficavam sob os cuidados de uma creche no impedimento das progenitoras. Era um domingo, nada festivo. Céu iracundo, fechado, ameaçador, contrastando com o paraíso angelical, onde os sorrisos das priminhas brincavam. À tardinha, tal como se esperava, a tempestade deflagra em fúria seus elementos. Uma avalanche de água desce o morro envolvendo tudo, como o estouro de uma boiada enfurecida. As mães recolhem-se ao quarto, em oração. Súbito, a água rompe a rede de escoamento que descia comumente o morro e passava a poucos centímetros do piso da salinha, onde haviam ficado as crianças e que, aos gritos, rapidamente foram tragadas pela enxurrada. O desespero e a dor amorteceram nos corações maternos as últimas palavras da oração. Lembraram que, aproximadamente meio quilometro adiante, a rede de grossas manilhas escoava-se num riacho ao sopé do morro. Alucinadas, os cabelos em desalinho, as vestes encharcadas, correm para lá na esperança de encontrarem ainda com vida as filhinhas queridas. Alguns minutos que pareciam séculos, de angústias horríveis e incertezas causticantes, se passaram, quando surgem na correnteza os sapatinhos das crianças. A esperança brilhou por instantes nos olhos nublados de pranto daquelas mães em agonia. Suas almas, mais uma vez integradas na prece: “Ó Deus de infinita misericórdia. Sois nosso Pai. Nós somos mães! Devolvei nossas filhas”. Estacando-se por um momento a avalanche de lama e detritos, surgiram dois anjos. Um ainda com vida; o outro, morto. Deus ouviu somente a prece de uma. Por que? Somente o Espírito, em ascensão, conhecerá a Verdade.
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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