JESUS, ESSE INCOMPREENDIDO!

  LITERATURA DE NELSON
LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi postumamente publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano XVII, edição nº.744, de 20 de dezembro de 1993.



JESUS, ESSE INCOMPREENDIDO!

NELSON LORENA


O inverno é intenso! Por toda parte, um gélido manto de arminho reveste a natureza; a paisagem triste é de sentido desencanto. Súbito, tudo se transforma e de aspecto festivo se tornam, a natureza, o arvoredo, o casario, o homem, tudo enfim. Natal! Natal! Suave e perfumada brisa de paz sopra sobre a Terra, a natureza vestida de noiva, sorri à vinda do esposo prometido! Natal! Natal! Cantam os pássaros, as árvores, as fontes, o mar, a terra, o céu! Os prados refletem a pureza do enlace divinal! Em lugar e dia incertos, talvez em Nazareth, talvez em Belém, talvez sob Herodes, talvez sob Augusto, não importa, nascera o menino Jesus, o Messias prometido! Do berço, tosco e humilde, derramava sobre o mundo o seu primeiro sorriso; no Seu olhar brilhava a Fé, no Seu coração, o Amor e em Seus lábios brincava a Esperança. Célere, tudo isso se espalhou entre os homens, uma centelha divina parecia abrasar os espíritos; o Reino dos Céus estava próximo e, enquanto isso, o Menino crescia em Sabedoria e Virtude! Durante, aproximadamente, três séculos o mundo banhou-se integralmente na Luz do Messias. Quanta Fé, quanta abnegação, quanto amor! Estavam com ele, Paulo, Pedro, Priscila, João, Blantina, Hipathia! Mas, os archotes humanos no Coliseu de Vespasiano se apagaram nas tenebrosas curvas dos desvios humanos. Daí para cá, somente a Esperança, aquela que brincava nos lábios do Menino Jesus, não abandonaria os homens. Tornou-se sua eterna companheira, para que não se esquecessem de todo, o Cristo, em sua dolorosa peregrinação sobre a Terra. A Fé e a Caridade amorteceram-se no sentimento humano; raras vezes incidentes, essas virtudes rasgam as noites abismais de nossas almas, como efêmeras centelhas. “Esfriou-se no coração dos povos o calor da vida cristã”, como nos disse Benedito XV. Hoje em dia, somente nos ocupamos do fato histórico, abandonamos suas conseqüências morais, que se tornaram inconseqüentes. Há maior preocupação com a matança dos nossos “irmãos inferiores”, na expressão de Francisco de Assis, com as competições pantagruélicas e com os presentes de Papai Noel, do que com aquele que dissera “O meu Reino não é deste mundo”. Ante essa triste realidade, Pio XII exclama: “Precisamos voltar aos tempos apostólicos”. Precisamos crer no Cristo vivo, sempre nascente, diariamente nascente! A idéia da manjedoura e do Calvário, sem negarmos sua beleza e magnitude, sempre lembrada com respeito e admiração, não deve constituir baliza de nossa felicidade que, por sua vez, deverá ser eterna como eterno é o Manso Pastor. Jesus não nasceu e nem morreu: Ele estava com Deus, no princípio... e, a “luz iluminava as trevas e as trevas não O compreenderam”, é o que nos diz o Evangelista. Ele voltará? Não o cremos. Nós é que devemos procurá-Lo, ir ao Seu encontro e Nele nos integrarmos, como os primitivos cristãos; dessa atitude depende a estabilidade e segurança da sociedade moderna. Exaltemos e nos extasiemos ante a manjedoura, as pregações de Genezareth, os encantadores sermões em casa de Maria e Marta, as curas maravilhosas, a “ressurreição” de Lázaro, o Sermão do Monte, o perdão aos seus algozes mas, não basta exaltarmo-Lo, santificarmo-Lo, preciso se torna é santificarmo-nos. Apesar de a “corrupção dos costumes e a imoralidade andarem de mãos dadas, mesmo entre algumas ovelhas do rebanho do Senhor”, como nos advertiu Pio XII, nem tudo está perdido. Sua palavra tem calor e fogo, basta somente um sopro e ela se incendiará novamente nos corações. “Seu jugo é suave e seu fardo, leve”. Concluímos que, ninguém, por mais douto e sábio que seja poderá cantar em seu justo valor as glórias dessa figura inexcedível, insuperável. Sua bondade, Sua glória, Suas palavras e a Esperança que, desde a manjedoura flui de Seus lábios, vivem ainda em nossos corações. Seu código de Amor e Paz, sem dogmas nem sistemas mas, eivado de puríssimos conceitos, ultrapassa a qualquer outro e, apesar da luta que lhe desenvolve uma educação moderna, dissoluta e instável, dirige os destinos da humanidade.


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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


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