CLAUDE LORRAIN

CLAUDE LORRAIN



Claude Gellée, le lorrain (1600-1682)
Auto retrato, cortesia de 


Claude Lorrain, seu verdadeiro nome era Claude Gellée, nasceu em 1600, em Chamagne ao sul de Nancy, no ducado da Lorena. Órfão aos 12 anos, foi morar em Friburgo com um irmão mais velho, Jean Gellée, escultor em madeira, com quem aprendeu rudimentos de desenho. Logo viajou a Roma, onde trabalhou para o paisagista tardomaneirista, Agostino Tassi, de quem se tornou discípulo. Viajou pela Itália, estudou em Nápoles com Gottfried Wals, pintor originário de Colônia (Alemanha) e retornou ao seu lugar de origem onde trabalhou como ajudante do pintor da corte ducal, Claude Deruet, nos afrescos da Igreja dos Carmelitas de Nancy. Em 1627 regressou a Roma, onde permaneceu pelo resto de seus dias.

Consolidou-se como artista pintando paisagens inspiradas na campina romana e, assinando seus quadros como “le lorrain” (o lorenês) tornou-se conhecido como Claude Lorrain. Foi favorecido pelo cardeal Bentivoglio, que o introduziu ao papa Urbano VIII e, pintando para a nobreza de toda a Europa, sua fama era tal que surgiram os seus imitadores. Para evitar falsificações, criou o Liber Veritatis (British Museum),  com 195 desenhos contendo uma descrição minuciosa de suas composições e para quem as tinha pintado, muito apreciado pelos estudantes da arte da paisagem. Em 1634 ingressou na Accademia dei San Luca e, em 1643, na Congregazione dei Virtuosi, sociedade literária fundada em 1621 pelo cardeal Ludovisi.

Publicou uma série em água-forte, os Fogos Artificiais, encomendada pelo marquês de Castela Rodrigo, embaixador de Espanha em Roma e talvez recomendado por este, recebeu o encargo de Felipe IV para decorar a Galeria de Paisagens do Palácio do Bom Retiro em Madri. Claude realizou oito quadros monumentais, em dois grupos, quatro de formato longitudinal (1635-38), e quatro de formato vertical (1639-41); com programa iconográfico, tomado da Bíblia e História dos Santos. Recusou o posto de reitor principal da Accademia dei San Luca, preferindo viver dedicado à pintura e seriamente atacado de gota, em seus últimos anos executou cada vez menos quadros, derivando para um estilo mais sereno, pessoal e poético. Faleceu em Roma em 1682, sendo enterrado na Igreja da Trinità dei Monti, no meio do respeito geral e a estima de seus contemporâneos.

CLAUDE LORRAIN THE ART


ESTILO

A especialidade indiscutível de Claude Lorrain foi a paisagem, de ambientação freqüentemente religiosa ou mitológica. O culto à Antigüidade, a serenidade e a placidez de mar e céu, do sol e das figuras, são evocativos de um passado mítico, perdido, mas recordado em uma perfeição ideal. Claude aprendeu de seus mestres uma tradição de paisagem lírica, com gosto pelos panoramas amplos, os portos de mar, a análise da luz. A clássica tradição paisagista italiana imediatamente anterior a ele, junto a conceitos rafaelianos, contribuiu para a sua visão enaltecida da Antigüidade e dos ideais do passado.

Seu estilo reflete a realidade através de um contato emocional com a natureza corrigida em aras de uma nova perfeição, dotada de um sentido da beleza, um ritmo cadenciado e uma sensação de repouso e equilíbrio, a “paisagem ideal”. Inspirou-se na campina romana, nas panorâmicas de Ostia, Tívoli e Civitavecchia, nos palácios urbanos, nas ruínas latinas, nas colinas samnitas e no litoral tirreno, na costa do golfo de Nápoles e nas ilhas de Capri e Ischia. Em poucos anos converteu-se em um dos mais famosos paisagistas, as obras pintadas para Felipe IV são as de maior dimensão até esse momento e sua concepção monumental marca o ponto álgido na maturidade do artista.

A partir de 1650 derivou para um estilo mais sereno e encontrou novos repertórios temáticos nas representações bíblicas. Nos seus últimos anos prossegue o formato monumental nas cenas do Antigo Testamento, enquanto os temas mitológicos assumem uma nova pureza. As figuras humanas ficam reduzidas ao insignificante, convertendo-se em marionetes, dominadas completamente pela paisagem que as rodeia.

A LUZ COMO ELEMENTO ESTÉTICO

Lorrain tornou-se, por excelência, o intérprete da luz solar, uma das características principais da sua obra. Não uma luz difusa ou artificial como no naturalismo italiano ou no realismo francês, mas uma luz direta e natural, proveniente do sol, que situa no meio da cena. O artista consegue refletir como ninguém as diferentes horas do dia, através dos sutis matizes do colorido. A luz procedente da esquerda reflete a manhã, com tons frios para a paisagem e o céu; a luz procedente da direita significa a tarde, com tonalidades cálidas e o uso mais abundante de tintas pardas na paisagem. A colocação direta de um disco solar costuma efetuar-se em marinhas, em cenas situadas em portos como pretexto para dar uma verdadeira ação à temática figurativa. Paisagens no campo costumam ser de uma luz mais difusa, geralmente lateral, que ilumina com mais macieza. Em seu cromatismo há um forte sentido simbólico: tudo o que se refere à natureza divina ou implica um conceito de serenidade está feito com a gama azul; a potência do amor, com o vermelho; a magnificência com o amarelo; a submissão com o morado; a esperança com o verde. A luz cumpre ainda um fator plástico, como a base que organiza a composição, que cria o espaço e o tempo e que articula as figuras, as arquiteturas e os elementos da natureza; e um fator estético, ao destacar-se como principal elemento sensível, que atrai e envolve o espectador, conduzindo a um mundo de sonho, um mundo de ideal perfeição.

Pinturas de Claude Gellée dito Le Lorrain 



Video e texto por Fanfanchatblanc
Música: Benedetto Ferrari: "Non fia più ver” Philip Jarrousky (contra-tenor)


"Claude Gellée, Le Lorrain o grande ancestral dos pintores paisagistas não copiava a natureza como se apresentava diante dele; ele a estudava e colocava na tela os tons de luz que ofuscavam e permaneciam impregnados em seus olhos. Ele conseguiu capturar a atmosfera luminosa de uma natureza lírica sobre a qual floresce seu domínio da perspectiva. Seus quadros suscitaram profundamente a emoção de William Turner levando-o a descobrir maneiras diferentes de pintar a luz. Constable foi também seu admirador e disse: "A doçura e afabilidade, reinam em todas as criações do seu pincel, mas sua força suprema consiste em unir o brilho à calma, o calor à frescura, a penumbra à luminosidade”. Em 1892, Auguste Rodin, dedicou-lhe uma estátua de bronze que se encontra no Parc de la Pépinière, em Nancy. Le Lorrain foi provavelmente o primeiro a se interessar em reproduzir momentos extremos do dia, o amanhecer, o meio-dia e o crepúsculo. Goethe disse sobre ele: "Eis aí um homem cujos desenhos são tão bonitos como os sentimentos e cuja alma contém um mundo tal como não é fácil de se encontrar...” Claude Lorrain conhecia com o coração os mínimos detalhes do mundo real, e os empregava como um meio de expressar esse outro mundo cuja sede era a sua bela alma."

TÉCNICA

Lorrain baseia-se na observação direta da natureza: ia ao campo, tomava apontamentos e passava os seus achados ao quadro. Sua técnica mais corrente é o desenho a pluma ou à aguada, sobre um esboço rápido a pedra negra. Era um desenhista espontâneo e infatigável, trabalhava com fluidez em todo o tipo de técnica sobre papel branco, azul ou colorido. A qualidade de sua obra baseia-se na beleza da execução, da pincelada compacta até o detalhe, na rica substância cromática e, apesar do notável nível do polimento, sempre pode se advertir o rasgo do pincel. O domínio das infinitas tonalidades, feitas à base de uma sutil coloração iluminada, denuncia sua fidelidade à técnica pictórica e sua agudeza em revelar os mais íntimos detalhes da natureza.
Realizava de quatro a oito desenhos preliminares, onde esboçava a composição da pintura e alguns apresentam um quadriculado que regula a exatidão das proporções. Uma vez no quadro, calculava cada linha importante, os limites das formas, as intersecções e as posições das figuras segundo proporções geométricas elementares, sobretudo mediante o segmento áureo, e também subdividindo a altura e a largura em terços e quartos. Ao desenhar uma paisagem, começa por estabelecer a linha do horizonte, que está a dois quintos de altura do quadro; e a disposição costuma ser ortogonal, fugindo para o horizonte, geralmente para onde está o sol.

REPERCUSSÃO DA OBRA DE LORRAIN

Claude Lorrain só teve um discípulo, de nome Angeluccio, do qual pouco se sabe. No entanto, seu estilo criou escola dentro do classicismo francês, influenciando artistas como Gaspard Dughet e Jean Lemaire. Fora do ambiente classicista, as paisagens de Claude inspiraram Von Goyen e Ruysdael. Sua influência perdurou no século XVIII, sobretudo no Reino Unido, inspirando artistas como Reynolds, Constable e, sobretudo Turner: no quadro Dido constrói Cartago ou O auge do reino cartaginês (1815), Turner constrói uma composição quase idêntica às mais típicas de Lorrain; o artista inglês doou este quadro à National Gallery com a condição de que fosse pendurado junto ao Porto com o embarque da Rainha de Sabá, de Lorrain. No século XIX sua influência se vislumbra em paisagistas como Corot, Daubigny, Théodore Rousseau e Hans Thoma, enquanto suas investigações no campo da luz terão eco no impressionismo. Por último, inclusive no século XX, vemos a impressão loreniana em um quadro de Salvador Dali, A mão de Dali (1977), levanta um velo de ouro em forma de nuvem para mostrar a Gala uma aurora nua, bem longe por trás do sol, versão surrealista do quadro de Lorrain, O porto de Ostia com o embarque de Santa Paula Romana.


A Mão de Salvador Dali (1977)

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